A minha vida dava uma crónica. – O amor é…estrábico.

O dia que não vou esquecer,
por mais anos que tenha de vida,
foi quando me fez sofrer
uma mulher de nome Margarida.
Estava à janela quando Margarida passou com uma blusa amarela.
Ela olhava e sorria, tão cândida e bela, eu de lágrimas nos olhos, nas mãos lenços aos molhos, reparei que ela passava e ponderava a chamar, dando por mim a pensar:
“Que raio…o que tem esta mulher que não pára de olhar?”
O que será que ela quer?
Porque estou eu a chorar?
Fica lhe bem aquela cor cristalina, acho que a vou cumprimentar:
“Boa tarde menina, bons olhos que a vejam passar, mas mais bonitos são esses olhos que para mim não param de olhar”.
Mas aquilo soou a cinismo, mais tarde viria a saber, Margarida sofria de estrabismo e não era a mim que estava a ver.
Estaria eu apaixonado pela mulher do olhar reverso?
Como saber? Fácil.
Só num estado tão alterado, começaria a pensar em verso.
Foi então que cai em mim e pensei “ a estupidez tem de ter um fim” e disse lhe com convicção sem rimas e sem ser em verso forçado:
– Merda…acho que por ti estou apaixonado.
Foram 2 anos sempre a amar,
ela só não tinha olhos para mim,
o que tendo em conta seu problema ocular,
era prenúncio de um grande fim.
Mas pouco a pouco tudo mudou
e quando estavam homens à solta,
ela que nunca olhava para mim olhou
e eu, por isso, mandei-a dar uma volta.
Ai…Se o arrependimento matasse,
arrependido já teria morrido,
como ia adivinhar o desenlace…
O estrabismo ela tinha corrigido.

Crónica de João Pinto Costa
A minha vida dava uma crónica.