A minha Vida e outras Insanidades – Sociedade de consumo

Sinto que hoje em dia se vão perdendo cada vez mais valores essenciais. A amizade, o amor e a família já não são o que eram, perdeu-se a pureza das relações com a perda da simplicidade. Cada vez as ambições são maiores. Queremos melhores roupas, melhores carros, mais sucesso profissional e melhor aparência, tudo com pouco esforço.

Não é que isto seja condenável, mas o problema está na superficialidade e futilidade que o mundo ganhou. As pessoas afastam-se cada vez mais umas das outras e a solidariedade (apesar de muitas instituições portuguesas terem este ano recebido um número recorde de doações) é algo feito esporadicamente e de maneira impessoal. Lembro-me de a minha avó contar que no seu tempo a vizinhança se conhecia toda, todos se entreajudavam. As pessoas eram ainda mais pobres nas felizes na sua humildade, porque davam mais valor às coisas simples, aos pequenos prazeres que hoje a maior parte da população tem como garantidos.

Muitas vezes, não tendo direito a prendas de natal, as crianças só tinham direito ao pinheiro tradicional. Mas não se estava triste, porque consideravam-no um presente por si só. Isso e a ceia comida com a família, pois nem toda a gente conseguia comer tão bem no resto do ano.

Agora, a obesidade é das doenças mais graves do século e a globalização trouxe-nos uma variedade imensa de produtos para consumir, ao alcance da mão. Trouxe a publicidade e o marketing que os vendem e disseminam a mensagem:“ Eu não valho nada se não tiver isto! Eu tenho que ter aquilo!” que até as crianças seguem. Por isso agora é uma calamidade, principalmente para os jovens (habituadas a ter tudo o que mais querem, ou quase) ter que viver com menos saídas à noite, menos compras e idas ao cinema. Vamos ter que ultrapassar isso, aproveitando melhor a “comidinha da mamã”, que até é mais saudável que a dos restaurantes, dar uns passeios a pé, namorar muito e conversar ainda mais com as pessoas de que quem gostamos. Pois outra coisa que falta, no dia-a-dia stressante que muitos de nós vivemos, é calor humano, empatia sem ser através de um ecrã, e solidariedade, não com dinheiro e doação de bens, mas com doação de tempo e humanidade.

Crónica de Sofia Marques
A minha Vida e outras Insanidades