A Pele também fala! – Aida Fernandes

Pele e Ultima Etapa…tudo a ver digo eu! Poderíamos falar na pele como um órgão, aquele que é capaz de escutar como nenhum outro órgão! O único capaz de nos mostrar as mais variadas emoções e sensações.

Já todos sabemos que a pele é o maior órgão do corpo humano, e também sabemos que é o órgão que nos vai mostrando com maior evidencia que estamos a envelhecer através das rugas e a acentuada flacidez, mas ela é ainda dotada de mecanismos de alerta e de uma sensibilidade inigualável, é o centro sensorial do sentido do tato e ainda o centro da capacidade perceptora. È na pele e através da pele que nós vamos entendendo, concluindo, como que por mensagens o que se vai passando no nosso organismo. Sigamos este mecanismo… a pele diz aos restantes órgãos do corpo: eu estou a envelhecer mas ainda estou atenta a tudo que se passa! Embora enrugada ainda sinto tudo o que me envolve, sou eu que vos alerto se se tenho frio ou calor, sou eu que vos digo se tenho febre, sou eu que vos protejo de tantas situações mas também sou eu que sofro com as perturbações internas e externas…sou uma vítima! No verão ninguém tem pena de mim, passam horas e horas a queimar-me, no inverno ando sempre arrepiada, quando o mecanismo avaria eu sinto logo e tantas outras…! Seriam inúmeras as reacções que poderíamos descrever mas todos conhecemos. Há só uma que difere com o avançar da idade, é o que se diz de “sentir na pele” o fardo que é chegar a velho e não ter quem cuide de nós, quem cuide da nossa pele, do nosso corpo, quem nos dê equilíbrio vital para nos podermos sentir bem, como que uma pele fresca!

No passado dia 15 junho foi comemorado o dia mundial de combate á violência contra o idoso, muitas coisas me passaram pela mente, acho realmente que este dia deveria servir de convite para uma reflexão, deveria ser uma consciência mundial, social, para nos ajudar a ver a violência do idoso como um problema social silenciado, que precisa de criar uma nova cultura, onde as pessoas que não tem paciência para cuidar de idosos possam ter essa noção, e dar a volta da melhor forma possível, arranjando estratégias dignas, nunca a violência.

Refiro-me a violência que não está relacionada só com a violência física mas essencialmente a psicológica, social, abandono e negação dos seus direitos e ainda amor supremo.

Basta ser idoso para ser vulnerável, neste ciclo da vida há que respeitar o envelhecimento e não ter vergonha de ser útil a todos os que precisam da nossa ajuda.

Muito me espanta quando ouço dizer, -eu não dava banho a um “velho”, que horror aqueles peles todas ao penduro…aquele corpo nojento!  E mudar uma fralda, nem pensar, não consigo! Aceito que custe no inicio, aceito que nem todos temos a mesma vocação, não aceito é que se “riam”ou critiquem de uma forma menos correta quem o faz. Não aceito é que transformem esta realidade numa violência dura de aceitar, e há estatísticas que confirmam que ela existe com maior frequência no seio familiar. Se não estão preparados para lidar com a situação que procurem a resposta, que valorizem quem o faz.

Termino com uma mensagem de um ser humano que conseguiu deixar uma herança pessoal riquíssima…

… O senhor não daria banho a um leproso nem por um milhão de dólares? Eu também não. Só por amor se pode dar banho a um leproso.

Madre Teresa de Calcuta!

Só por amor se consegue lidar com a pele enrugada, só com cuidados necessários se consegue tratar uma pele que fica sujeita e vulnerável no final da vida…afinal o órgão que sempre foi capaz de “escutar” agora necessita de ser “escutado”…amado e respeitado.

 
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A última Etapa