A teoria do “Claramente teria feito coisas diferentes” – Telma Henriques

Teoria

“Claramente teria feito coisas diferentes”


O autor desta teoria não sou eu. Quem a enunciou foi aquele-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado-sob-pena-de-serem-impostas-mais -medidas-de-austeridade.

Portugal está no bom caminho. 95% do programa do memorando já está cumprido. A sétima avaliação da Troika foi positiva. (ufa! o cheque de 2,5 mil milhões de euros já vem a caminho)

O desempenho do Governo tem-se revelado excelente. O Governo não duvida do caminho que escolheu e que os deputados da maioria aprovaram no Parlamento. O Governo não duvida que, destas circunstâncias, emergirá um país melhor. Estruturalmente mais competitivo. Uma economia mais forte. Um povo mais elegante.

E esta teoria a deixar-me completamente “desconexa”!

Logo eu que sou pessoa que confia nos “magos das Finanças”. A sério. Gosto de magia e de Finanças. Os dois juntos é combinação imbatível. É preto e branco. Queijo fresco e marmelada. Saltos altos e saias-lápis. Cerveja e caracóis. Austeridade e desemprego. Coisas assim. Que nasceram umas para as outras.

E a confiança na rota que leva ao rumo que leva ao fim?

E a estúpida da realidade a intrometer-se?

Empresto-vos os meus olhos.

Nas ruas onde caminho metade das lojas estão fechadas. A outra metade é explorada por cidadãos chineses. E um indiano.

A indústria (quase) desapareceu.

O “turismo”? São autocarros cheios de reformados (alemães, belgas, espanhóis, italianos). Seguem uma bandeirinha. Vão em fila indiana. Nunca se desviam.

O “Centro de Emprego”? Duas “ofertas”. No Verão. Há uns dias organizou uma “palestra” para incentivar o empreendedorismo. Um rapaz, esforçado, tentava convencer os  desempregados a abrir um “pequeno negócio”. Houve muitos risos.

“Coisas diferentes”?

O mercado interno está morto.

As exportações? Calo-me. Até aceito que a culpa seja da greve nos portos. Veremos como correm no primeiro trimestre de 2013.

“Claramente teria feito coisas diferentes”  (isto é só uma estupidez, não leve a mal) não teria sido mais fácil ter percebido, desde o início, que 98% das empresas  dependiam do consumo interno?

Não seria mais fácil tentar deter o encerramento de TODAS as PME?

É que, sabe, quando estas fecham não voltam a abrir. E ninguém quer investir num país “desconcertado”.

E agora? Quer (mesmo) um salto de FÉ?



Crónica de Telma Henriques
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