A teoria dos bebés -Telma Henriques

Questões Prévias:

Bebés são promessas cor-de-rosa. Têm cheiro de algodão doce. Fazem-nos sorrir sem motivo. Sonhar com mundos de borboletas e fadinhas. Acreditar em anjos enquanto dormem.

Alguns factos:

Nos anos 60 de século XX em Portugal 40% da população tinha menos de 25 anos e 8% mais de 65 anos.

No ano 12 do século XXI 20% da população tem menos de 25 anos e 20% da população mais de 65 anos.

No primeiro semestre  de 2012 nasceram em Portugal 43.0000 (quarenta e três mil) bebés,  menos 4.000 (quatro mil) do que em igual período de 2011.

Portugal terá em 2012 a mais baixa taxa de natalidade desde que existem registos.

Portugal tem uma das mais baixas taxas de mortalidade infantil do mundo.

Portugal tem uma das mais altas taxas de mulheres com empregos a tempo inteiro na União Europeia.

 

A teoria dos bebés

Fui educada com a noção que cada um deve ter apenas os filhos que se sente capaz de educar. Por isso sou filha única. Por isso tenho duas filhas.

Não me foi ensinado que o Estado deveria “pagar-me” ou “dar-me” condições para ter filhos.

Filhos são  questão de consciência. Tê-los ou não é questão de liberdade e escolha pessoal.

Filhos são coisas muito sérias para se terem a “brincar” ou “por acaso”.

Olho à minha volta e vou vendo:

Amigas da minha idade apenas com um filho. Dois, no máximo.

Amigas mais jovens nenhum.

Amigas da minha filha mais velha (e ela própria) que não os querem ou desejam.

Três situações distintas:

1º – Quem teve filhos “limitadamente” – como eu.

2º – Quem não tem filhos porque não pode (em consciência) tê-los.

3º – Quem pura e simplesmente acha que não.

Tive filhos muito nova. 23 anos quando nasceu a minha primeira.

A minha vida desse tempo não se pode comparar  com a  vida das minhas amigas que andam hoje entre os 30 e os 40. A minha própria vida de hoje não é comparável à que vivia aos 23.

Aos 23 anos já estava formada. Casada. Trabalhava. Tinha casa e carro. Não dependia de ninguém. Existia, em mim, uma confiança ilimitada no futuro.

As minhas amigas dos 30/40 andam angustiadas. Quase todas são formadas. Muitas delas trabalham na sua área de formação. Algumas são casadas ou têm um companheiro. Carro. Casa.

O que lhes falta? A confiança ilimitada.

Sendo mulheres de outra geração que não a minha, todas têm a mesma aguda “consciência” que se não pode pôr no mundo crianças apenas porque o “relógio biológico” toca ou o tempo escasseia. E vão adiando. Todos os dias mais um dia.

No caso da minha filha e das suas amigas a situação é ainda mais bizarra. Quase todas na faculdade ou a tirar “mestrados”. Todas com a certeza de terem de escolher entre a fila do desemprego ou a da emigração. Com namorados em iguais circunstâncias. Sem carro. Sem casa. Sem independência. Sem futuro.

Não querem e não desejam a “bagagem azulinha” dos bebés.

E SE  “isto”* acabar o que nos resta?

Reformados. Desempregados. Emigrados.

Cheios de sonhos de algodão doce por cumprir.

*A Pátria. A crise. Portugal – introduzir o que der mais jeito.


Crónica de Telma Henriques
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