Diz que… – A União, o Reino Unido e a Alemanha

Esta semana estava indeciso entre falar sobre a divida (e o que realmente ela é e significa) e a reacção do primeiro ministro britânico ontem. Fiquei-me pela segunda, mas antes fiz um esquema, numa folha de papel, sobre a primeira.

O esquema é muito básico, é certo. Falta muita coisa. Mas é assim que os politicos vêem a sociedade hoje em dia. Os bancos ao centro, emprestam a toda a gente e de toda a gente recebem juros. Para além disso, investem em acções das empresas e absorvem parte dos lucros das mesmas. Que fazem os políticos? E as pessoas? As pessoas que peçam dinheiro aos bancos. E as empresas? Que peçam dinheiro aos bancos.  Se até o FMI o fez, para fornecer o suposto apoio aos países que necessitaram.

Mas o que deixou o mundo  perplexo foi a decisão de David Cameron, primeiro ministro britânico, de não assinar um tratado que, segundo o mesmo, não trazia benefícios nenhuns para o Reino Unido. E muitos – desde logo Sarkozy, o mesmo que antes não o queria deixar participar na discussão sobre questões do Euro, pois o Reino Unido tem a libra (não o Euro), e agora já queria que ele assinasse um tratado que pretende essencialmente credibilizar a zona Euro nos mercados – criticaram abertamente o primeiro ministro britânico. Mas pergunto eu: não é para isso que nós elegemos os nossos governantes? Eles não são eleitos para, antes de qualquer outra coisa, defender os interesses do nosso país?

Antes de reflectirem sobre esta pergunta, ponderem outra questão: impondo a sua vontade e decidindo entre eles antes das cimeiras, a Sra Merkel e o Sr Sarkozy não estarão também a defender egoisticamente os interesses franceses e alemães, impondo-os aos outros países? O uso da expressão “egoisticamente”  nesta questão tem implícita, da minha parte, alguma ironia. Isto porque foi isso que a maioria das vozes criticas disse de Cameron. Que foi egoísta em relação ao conjunto dos 27 da UE.

Agora já se fala se se justifica a permanência do Reino Unido na UE. Eu acho, sinceramente, que as pessoas que dizem isto o fazem por confusão, por haver tantas “uniões”. Senão repara-se: se estivéssemos a falar de uniões militares, ninguém pensaria em por fora o reino de sua majestade. Estiveram no Iraque, estiveram no Afeganistão, etc etc. Se falarmos de contribuições monetárias para (e sublinho o para) a União, ninguém pensaria em afastar a UE. Até se pensarmos na questão histórica, ninguém negaria ao Reino Unido a permanência na UE.
Mas o que está aqui em causa é o EURO. A Alemanha – que, reza a história, foi o primeiro Estado Membro a violar um pacto de estabilidade imposto por Bruxelas – quer manter à força uma união monetária que foi, desde o inicio, mal pensada. Com uma organização diferente, não estaria neste estado. Já levou Sarkozy atrás – tipo “moço de recados” – e agora que levar todo o resto da união europeia.

Parece-lhe estranho? Não é. A Alemanha já tentou, por duas vezes na história, conquistar a Europa pela força, pelas armas. Esta é só outra forma de tentar controlar a Europa, desta vez pela economia e pela politica. Porque se a Alemanha tivesse interesse em resolver a crise já tinha agido muito mais cedo. E o Reino Unido, sempre teve, reza a história europeia, ao lado dos “aliados”, contra a Alemanha e os seus interesses. Só que desta vez, a França é um “peão”, nas mãos da Alemanha.

Uma coisa que não gostaria de relembrar – mas para fazer sentido, tem de ser – é que, nas outras duas tentativas da Alemanha de controlar a Europa acabaram com o velho continente de rastos. Esperemos que não aconteça o mesmo agora.

Crónica de João Cerveira
Diz que…