A verdade do Sono – Patrícia Marques

*

Acordo naquele tempo de ninar, em que o sono dorme mais profundamente que a consciência e vai premeditando quais são as laborações que vão acontecer no dia seguinte. Começo por revirar o lado mais sensacional de uma travesseira qualquer.

O dia começa num estado de sono amenizado quase que a pensar em todas as tarefas realizadas no dia. É um sono esquecido e é a consciência a dominar a qualidade de um sono de reviravolta. Depois, a vontade de dormir prospera.

A vontade de dormir torna-se mais forte que o estado de consciência ativa que quer predominar; por isso o corpo desfalece até conseguir atingir o sono imediatamente a seguir: o verdadeiro estado de sono profundo. Nesse lugar, o esquecimento toma conta de tudo, senão do que pode vir à superfície – inúmeros sonhos e acontecimentos sonhados, com pessoas e desenvolveres e também opiniões que fazem de nós quase que uns fantoches do sono e do dormir. De madrugada, os primeiros barulhos acontecem.

O corpo ainda entorpecido sente os primeiros pássaros a chegar ao alto da ramada, como quem quer acordar todos os adormecidos…E o nosso corpo estende-se ainda pela sensação de um esgueirar, agradável à mente. Os sonhos também seguram o que de melhor o sono nos escolheu oferecer, e é deste modo que ficamos agradecidos pela noite, onde a matéria descansou, onde a mente acordou, onde os nossos pensamentos abreviaram suas análises a uma só, a sensação de estar presente agora na consciência mais tranquila daquela que ontem adormeceu comigo.

Crónica de Patrícia Marques
Um lugar ao Sol
Visite o blog da autora: aqui