A verdadeira história da Capuchinho Vermelho! – Sandra Castro

Era uma vez…

Uma chavala chamada Capuchinho Vermelho. Na realidade o seu nome era Pita Joaquina, dizem as más línguas que na altura de registar a cachopa, o pai estava com uma valente bebedeira e em vez de escrever Rita, escreveu Pita e assim ficou, mas a sua rica mãe, com medo que a filha sofresse algum tipo de humilhação na aldeia e na escola e, como todos os dias a menina vestia um capuz vermelho para a agasalhar do frio e do vento, a mãe apelidou-a de Capuchinho Vermelho.

Como filha única, sua mãe gabava-lhe as qualidades aos vizinhos, à família a até ao padre da aldeia.

A minha filha é muito prendada. Faz crochet, Arraiolos, cozinha uma feijoada e um arroz que é uma delicia! Ajuda o pai na lavoura quando chega da escola. É muito meiga a minha menina! Muito educada e respeitadora. Vai à missa todos os domingos. É muito pura a minha filhinha, não é como essas moças da cidade que são umas badalhocas, sabem mais que nós! Há-de casar com um bom homem!

Todos os dias a adolescente tinha de andar a pé três quilómetros para ir para a escola e, novamente três quilómetros em direcção a casa. A mãe, consciente e preocupada como qualquer mãe, repetia-lhe todos os dias o mesmo aviso enquanto lhe escovava os longos cabelos.

Filha, vai para a escola pelo caminho principal, que é o caminho aonde passam mais pessoas. Nunca vás pelo atalho e sobretudo nunca fales com estranhos! Boa escola, filha!

Obrigada, querida mãe! Até logo.

A Capuchinho saiu de casa em direcção à escola.

Foda-se pá chata da velha, caralho! Todos os dias diz a mesma merda! Não há pachorra! Estava morta por dar o cava de casa, foda-se!

Saca um cigarro do bolso do capuz (que roubou do maço da professora) e caminha em direcção ao atalho (exactamente como a mãe lhe mandara fazer!!!), para ir ao encontro do seu namorado, o Zé Hortencio.

Zé Hortencio era um miúdo pacato, calmo, educado e sorridente. Aos 14 anos, ele estava apaixonado pela Capuchinho.

Encontravam-se todos os dias para irem juntos para a escola e, por entre os silvados, uns amassos e juras de amor, os dois jovens descobriram que a Capuchinho era bem melhor sem o capuz vermelho…

Um belo dia, rotineiro como todos os outros, estava a Capuchinho no seu trajecto habitual, quando deu de caras com um chavalo, jeitosito por sinal.

Ola, és a Capuchinho Vermelho, não és? O capuz ridículo não engana!

– Sou…e tu? Vais-me dizer que és o Lobo Mau? Ah ah ah lol!

Não, mas chamo-me Lobo Bom, quer dizer, o meu apelido é este.

– Lobo Bom? Pois…olha bacano, eu não sei qual é a tua onda mas dá de frosques, que a minha cota não quer que eu fale com estranhos, topas?

Calma, capucho red, já que te topei, deixa-me dizer-te que és muito bonita! Um dia destes comes umas maças comigo?

– Maças? Dah! Bye bye Lobo Bom.

Aquele cenário repetiu-se durante vários dias, até que a Capuchinho, já um  pouco enamorada, cedeu aos investimentos do Lobito.

– Manda vir, boneca! Vens por este atalho à direita, depois viras pela macieira e chegas a minha casa, que é a de porta azul.

Lá foi a Capuchinho enfeitiçada, com sede de paixão fruto da sua doce adolescência.

( Truz truz )

Entra capuz.

Lobo Bom, porque é que tens os olhos tão grandes?

– É para te ver melhor!

– Lobo Bom, porque é que tens o nariz tão grande?

– É para te cheirar melhor!

Lobo Bom, porque é que tens as orelhas tão grandes?

– É para te ouvir melhor!

– Lobo Bom, porque é que tens a boca e as mãos tão grandes?

– É para te comer melhor!

( Engana-se quem pensa que o final desta historia é o Lobo morto no rio com pedras na barriga, enquanto a avó, o caçador e a Capuchinho festejam ).

A Capuchinho engravidou, a mãe com a vergonha pôs-se a montes com o padeiro, o pai teve um enfarte e bateu as botas e, na aldeia, todo o povo comentava à medida que a barriga crescia, quem seria o pai da criança.

Foi por causa desta linda história, a Capuchinho Vermelho, que surgiu a música:

Mas quem será?

Mas quem será?

O pai da criança?

Eu sei lá, sei lá. 

Eu não estava lá.

Vitoria, vitoria acabou-se a historia.

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense