**Estreia**A Voz do Artesão – Fátima Ramos

No momento actual, são cada vez mais raras as organizações locais (juntas de freguesia e câmaras) que dão oportunidade aos artesãos, de apresentarem livremente a sua arte. É-lhes exigido o cartão de feirante. Ora, numa mostra de artesanato, este cartão não faz qualquer sentido. Os artesãos não são feirantes.Tem-se gerado à volta de tudo isto uma polémica, em nada benéfica. Julgo que uma das causas, se prende com o facto dos feirantes terem começado a vender artesanato importado, misturado com outros artigos.

Em Algés, no recinto exterior do Palácio Ribamar, realizava-se todos os meses a mostra de artesanato e do livro, privada, organizada pela Junta de Freguesia.Todos os artesãos podiam a custo zero, apresentar os seus trabalhos, era um grupo com um número de elementos bastante considerável, o material logístico era de cada um, ocupavam o recinto sob orientação do responsável, cumpriam as regras impostas pela organização, (não colocar nada no chão, que desse o aspecto de desalinho, tão comum vermos nas feiras com os feirantes). Mais tarde todos colaboraram, ainda que com verbas simbólicas, na melhoria do local para o tornar mais apelativo, bandeirolas e música ambiente, outros com os seus próprios conhecimentos organizaram workshops. Porém, a Câmara decidiu que era necessário ter o tal cartão de feirante, nunca percebemos porquê, o número de participantes reduziu e acabou-se com a mostra de artesanato. Posso referir que em  Paço d’Arcos, aconteceu o mesmo. Passaram a exigir o cartão de feirante. Onde é que os artesãos se situam no meio disto tudo? Começa a preocupar a tentativa de banalização desta arte.Será que a presença de artesãos numa localidade não a prestigia? – já imaginaram deixar de haver a FIA em Lisboa e a FIARTIL no Estoril?

Pensem nisto,…

Hoje, tenho o gosto de apresentar um caso de sucesso.

Raquel Rodrigues, autora do blog http://lavoresdatateu.blogs.sapo.pt reside em Castelo Branco. Começou a interessar-se pelo artesanato quando em criança via a sua mãe fazer renda. Diz a Raquel  “sempre tive um fascínio muito grande pela capacidade que alguns iluminados têm de, do nada, fazer nascer verdadeiras obras de arte”. Dedicou-se à técnica do tricot, crochet e ponto cruz. Quando nasceu a sua filha, ficou em casa e, para rentabilizar o seu tempo começou a fazer malas para as amigas, nessa altura, utilizava a técnica do trapilho. E acrescenta “elas gostaram e, as amigas das amigas também, começaram a encomendar, a comprar e pouco a pouco fui fazendo disto o meu modo de vida”. Finaliza, dizendo “Nunca frequentei nenhum curso, há oito anos que tenho vindo a actualizar-me e a aprender técnicas novas . As coisas que faço passam por muito do (faz e desmancha) até ficarem o mais perfeito possível, por essa razão em cada uma delas está um pouco do meu coração.Tenho a alegria imensa de fazer o que gosto, o meu trabalho confunde-se com o meu hobbie e por isso tenho sempre muito prazer em trabalhar”. Actualmente faz um pouco de tudo (patchwork, tricot, bordado, bijuteria, feltro, baínhas abertas, macramé e crochet ) para onde quer que vá, viaja com ela um novelo de linha e uma agulha.

Espero poder trazer semanalmente outros casos com igual, mais ou menos sucesso, o que importa é ler e ouvir “A Voz do Artesão”.

Crónica de Fátima Ramos
A voz do artesão