Acordos e desacordos – João Cerveira

Entre acordos e desacordos, promovidos por Sua Exa. o mais gastador Presidente da história da República Portuguesa (de facto, muito oportuno em tempos de crise), perdemos tempo precioso que devia ser aproveitado para pensar no estado real do país e não no estado que a Troika e a Sra. Merkel pensa ou quer que se pense que o país chegou.

Pensem comigo. A Troika é formada por três partes (daí o nome): FMI, Comissão Europeia e BCE. O FMI já reconheceu que cometeu erros graves, pois não previu a magnitude das consequências de algumas das medidas de austeridade que propôs, tendo agravado a crise em vez de ajudar a resolver ou a colmatar a mesma. A Comissão Europeia já veio dizer que é necessário refrear a austeridade, pois já está provado que demasiada austeridade leva a um caminho inverso ao que se pretende. O próprio BCE já voltou atrás com muitas medidas, tendo baixado a taxa de juro de referência para um mínimo recorde e acedido a comprar novamente dívida soberana no mercado secundário. Posto isto, expliquem-me porque é que a Troika, quer em Portugal, quer na Grécia, insiste na austeridade? E nem vale a pena falar na descida do IVA na restauração na Grécia porque é apenas até ao final do ano e vem acompanhada do despedimento de uns milhares de trabalhadores da função pública, e, por isso, é medida que só vai agradar (pelo menos nos próximos tempos) quem escolhe o país para férias.

Fala-se à boca cheia em reanimar a economia, especialmente a interna. Como, se logo a seguir se fala em reduzir funcionários públicos (logo, mais desemprego e mais portugueses sem poder de compra) e cortar em pensões de reformados e pensionistas (logo, mais portugueses sem poder de compra) ? É que, se em contraponto ao sector público, o sector privado aumentasse, o impacto seria reduzido. Mas com esta carga fiscal o que acontece é que ambos os sectores estão a cair, o que origina o aumento da despesa do Estado em prestações sociais (nomeadamente, subsidio de desemprego). Mas ainda há dúvidas?

A meu ver não precisamos de menos trabalhadores na função pública. Estudos europeus dizem que não temos mais do que a média europeia (racio funcionário publico por habitante). Precisamos é de uma função pública mais eficiente. E isso começa nos decisores políticos.
Não podemos, por exemplo, ter “1001” institutos públicos, gabinetes de apoio e consultores e, quando é preciso apoio nas decisões, pedir estudos a empresas e instituições externas. É o Estado a pagar para alguém fazer algo que o próprio Estado pode fazer. Outro exemplo: os deputados dizem que, depois de ser eleitos, se tornam da nação e não do distrito onde foram eleitos. Então que sentido faz receberem compensações como subsidio de deslocação ou alojamento? E muitos deles têm casa própria em Lisboa ou nos arredores há muitos anos. Que sentido faz – outro exemplo – altos cargos terem direito a regalias como carro, viagens, alimentação, etc, e ainda assim receberem ajudas de custo de vários milhares de euros? Que sentido faz algumas cidades terem o serviços públicos – conservatórias, serviços de finanças, etc – dispersos pela cidade, embora a poucos km (as vezes metros) de distância, alguns em imóveis arrendados, quando poderiam estar centralizados num mesmo edifício, poupando na renda, manutenção de património e gestão partilhada? Se está provado que a informatização dos serviços agiliza o acesso dos cidadãos ao mesmo e poupa dinheiro ao Estado, porque se parou esse processo? Se há empresas municipais que não trazem qualquer beneficio ao município e os serviços camarários podem fazer o mesmo trabalho de forma mais eficiente, porque é que não são extintas? Mais: se há certas zonas em que, está provado por estudos, que a criação de serviços intermunicipais (por exemplo, na área da água e saneamento básico) são mais eficientes e, consequentemente, mais baratos para as autarquias, porque não avançar para eles?

Neste país falta vontade politica e força de vontade de vencer na vida, de saber mais. E neste país falta pensar a médio/longo prazo. Muitos pensam só a curto prazo, de 4 em 4 anos. Não podemos pensar que podemos destruir a economia agora que ela, daqui a uns anos, reanima. Temos de reanimá-la agora e dar-lhe instrumentos para que ela vá crescendo. Mas não à força. É preciso, como diz o ditado, ensinar a pescar e não dar o peixe. É preciso dizer às empresas como ir atrás do sucesso, como criar negócios e não “entupir” as empresas com linhas de crédito que muitas deles não vão saber gerir e vão acabar por falir, “enterradas” em  dívidas.
Sem esta mudança de mentalidade, podemos andar de acordo em acordo, os governos podem mudar de cor politica 20 vezes e não se chega a lado nenhum.

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…