Alemanha: reeleição de Merkel em perigo? – Nuno Araújo

 

peer steinbruck

As últimas sondagens na Alemanha mostram, de uma forma generalizada, que existe empate técnico entre as possíveis coligações para um governo. Merkel e um possível parceiro de coligação à direita ficam abaixo da fasquia de 50% dos votos, e a esquerda alemã soma quase 50% de votos. Ora, aqui o problema é saber se, por ventura, estarão os Verdes disponíveis para concessões ao Die Linke para formar governo juntamente com o SPD de Peer Steinbruck, este candidato que tem subido (e de que maneira!) nas últimas semanas de campanha. Creio que Steinbruck conseguirá unir a esquerda alemã em torno de uma ideia de governo, ainda que hajam muitos obstáculos a contornar, pois SPD, Verdes e Die Linke têm dois objectivos muito fortes em comum: melhorar a empregabilidade e construir uma melhor União Europeia.

Peer Steinbruck, candidato a chanceler alemão, parece não se importar que lhe chamem “Peer-Problema”, em alemão, essencialmente devido às gaffes sucessivas que cometeu numa fase mais embrionária da pré-campanha eleitoral. Face a isso, até mostra o dedo médio em riste, numa rubrica do magazine do “Süddeutsche Zeitung”. Um gesto que pode, na melhor das hipóteses, contribuir para uma vitória de Steinbruck nestas eleições de 22 de Setembro, algo inimaginável até ainda há muito pouco tempo atrás.

Devo recordar, igualmente, o debate televisivo de 1 de Setembro que, na minha opinião, marcou positivamente a campanha de Steibruck. Apesar de ter sido ministro das Finanças do governo de coligação de CDU e SPD entre 2005 e 2009, Steibruck tem conseguido passar a imagem ao eleitorado de ser um homem competente, e com vontade de aliviar a austeridade que pesa sobre os países em ajustamento, como é o caso de Portugal, sobretudo porque deu a entender que a Alemanha tem uma dívida histórica para com os parceiros europeus, essencialmente devido às benesses atribuídas pela então CEE à reunificação alemã. Para além do mais, Steinbruck assumiu ser favorável à adopção por parte de casais de pessoas do mesmo sexo. E Angela Merkel não é favorável, logo essa postura mais fechada e menos tolerante da chanceler poderá bem ter sido um “rude golpe” na sua campanha que, diga-se abertamente, tinha sido pautada por muita prudência e muita assertividade até agora.

Tal como tem acontecido nas últimas semanas, Merkel e a sua CDU/CSU têm procurado “seduzir” sectores do eleitorado alemão situados mais à direita do plano político. Para isso, a actual chanceler tem explorado algumas ideias fundamentais para os eurocépticos alemães, a AfD (Alternativa para a Alemanha, contando entre essas ideias atitudes mais “duras” para com as reformas efectuadas pela Grécia em troco de mais ajuda financeira. Merkel sabe que para vencer estas eleições, que agora parecem não estar ganhas, ao fim de contas, será necessário “radicalizar” e “dar o tudo por tudo” para vencer, nem que para isso conte com a ajuda de Durão Barroso e aponte Portugal como um “bom exemplo”, “bom aluno da Troika” que é, pois seguindo esse caminho “estreito da austeridade” alcançam-se os objectivos.

Daqui até ao fim da campanha eleitoral na Alemanha, distará somente uma semana. Uma semana em que Merkel completará os seus 50 comícios políticos, em que a sua “caravana” aposta muito em poucas semanas, e numa altura em que a dúvida de Merkel e CDU/CSU estará no seguinte: se “tirar” votos à direita fortalecer Merkel significa enfraquecer os seus possíveis aliados de governo, como fazer para esses aliados de coligação tenham, pelo menos 5% dos votos para, pelo menos, terem representatividade no parlamento alemão? A minha resposta é: “máquina eleitoral” da CDU/CSU, “saquem das máquinas de calcular”!

 

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana