“Amo-te” vs “I Love You” – Bruno Neves

Sim, hoje voltamos a falar de amor. Mas de uma perspectiva diferente. Não do amor em si, mas do gesto de dizer que amamos alguém e das palavras que utilizamos. Eu passo a explicar: a língua portuguesa é muito rica e está repleta de rasteiras, isso já todos o sabemos. Contudo no que ao amor diz respeito deveria a diversidade ser maior?

Senão vejamos: se eu gostar realmente de alguém (mais do que como amiga) poucas palavras se adequam quando for necessário exprimir verbalmente o que sinto. Muito provavelmente apenas “amo-te” vai estar nessa categoria. E “amo-te” é uma palavra muito pesada, carregada de simbolismo e sentimentos. Grande parte dos casais é até capaz de começar e acabar o namoro sem a dizer uma única vez (pelo menos de forma sentida e verdadeira). É uma palavra que não dizemos todos os dias, que é guardada para os momentos e pessoas verdadeiramente especiais.

“Mas não é assim em todas as línguas?” Eu já estava a estranhar que vocês não se metessem na conversa! Se pensarem bem vêm que não. Olhem por exemplo o caso da língua inglesa. O “I love you” é usado em diversos contextos que não apenas o do casal. Tanto pode ser usado por um apaixonado casal, como por uma mãe dirigindo-se à sua filha. Como ainda por uma rapariga quando se despede da amiga. Ou seja, é algo passível de ser usado em diversas situações, muitas delas não envolvendo um casal apaixonado.

Obviamente que a culpa é um pouco de todos nós e não da língua em si, contudo é mais fácil de direccionar o descontentamento para a língua. Isto deve-se à banalização do uso da expressão. E não digo isto como sendo algo positivo, atenção! Nós podíamos dizer “adoro-te”, contudo o significado não é bem o mesmo. O “adoro-te” é para o comum dos mortais, enquanto que o “amo-te” está reservado para uma lista bem pequena de pessoas.

Talvez pelo facto do “I love you” ter sido tão banalizado hoje perdeu todo o encanto. Qualquer um o diz, em toda e mais alguma situação, para tudo e todos. Perdeu o significado e a mística que o envolvia. É apenas mais uma expressão, como tantas outras. Ao mesmo tempo o nosso bom e velho “amo-te” manteve a reputação intacta, e permanece altivo e imponente no seu grande trono, no topo da lista das expressões a utilizar quando falamos com pessoas realmente especiais. (Vou dar-vos uns segundos para recuperarem desta forte imagem…já está? Então vamos prosseguir)

A conclusão é que nós ambicionamos sempre o que não temos. Não se esqueçam que a galinha da vizinha é melhor do que a minha. É algo a que o ser humano não consegue resistir: uma constante ambição.

Posto isto é tempo de fazer uma sentida homenagem à nossa expressão. Talvez por a dizermos tão poucas vezes ela simbolize tanto. É apenas utilizada em ocasiões especiais e para uma lista bem curta de pessoas, logo quando a ouvimos ou dizemos, sabemos que é verdadeiro e sentido.

Como disse o grande e inigualável António Feio: “Não deixem nada por dizer, não deixem nada por fazer”. Digam o que sentem, não reprimam os vossos sentimentos.

Boa semana. Boas leituras

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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