Amor em pulgas

A saudade assemelha-se à solidão. Quando o amor ainda persiste em casa, e o coração a milhas. Para lá da porta. A saudade é um futuro que levanta suspeitas, um dos maiores padecimentos; não ter por quem sentir vontade de existir. Passar pelas horas e não contar os segundos, os minutos. Mas, como diz Aguinaldo Silva “O maior dos sofrimentos é não ter sofrido”.

Procuro o teu abraço. Dentro dos teus abraços, e a verdade toda nesta frase, a ausência de um sentimento, desde sempre.

A ocasião oportuna quase evidente, incidida no relento da noite, a humidade castanha dos teus olhos. Que escuridão é esta, que acaba, que finda, desde o dia em que morreste, quase ontem. Parece que foi ontem.

É imprescindível renovar os queixumes, os que ferem o amor. É necessário tombar o fado, convulso de ciúmes vãos. Grito. Grito outra vez. Grito as lamentações de ti, quando surges durante todos os sonhos. Triste canção.

A canção da agonia. Não compreendes. Não armas as rixas, que neste momento o melhor é deixares-me absolutamente só. Eu, que me habituei a viver sem ti.

Os meus olhos há muito que deixaram de ver, e de pensar. Ninguém repara. Preencho a tremura, nada me confronta. A importância não existe, depois do dia da minha morte, desempenhamos todos os momentos que deixámos por terra. Por esta terra.

Amor em pulgas. Sobre o vento, e os céus, permaneces tu; chorosa, narrada pelo mundo. Por mim, não deixes morrer o amor. Não te mostres longe, embora não me vejas.

Estamos cada vez mais próximos; eu da morte, e tu de mim. Quero amar-te. Amar-te perdidamente. Há uma primavera iminente. Antes que seja tarde. Mais uma vez, tarde. Um dia serei pó, que seja esta noite. Que me saiba perder, para te poder reencontrar.