Antiga e mui nobre – Bárbara Borralho

Nunca me canso de ti. Sempre que te vejo decoro mais um pormenor teu e dou comigo a não querer ir embora só para ver o luar incidir sobre ti. És um poema remendado ao longo dos anos por centenas, milhares de pessoas que por ti passaram e, tal como eu, não quiseram deixar-te. Assim que te conhecemos tornas-te presença assídua na nossa vida, transformas-te num refúgio e perco-me sempre nas entranhas do teu ser, nessa existência portentosa que te torna inesquecível.

Podem escrever-se poemas, cartas de amor, músicas… Nada te fará justiça. E hoje, enquanto admiro o pôr-do-sol e o seu reflexo em ti, não consigo deixar de sentir que um dia posso ter de te deixar ficar para trás, mas levar-te-ei comigo para todo o lado. É contigo que me sinto em casa, és tu quem guarda algumas das melhores memórias da minha (ainda) curta vida. É por isso que me custa pensar que um dia poderei ter que deixar-te. Talvez não sintas a minha falta tanto quanto eu sentirei a tua. Sou apenas mais uma das muitas pessoas que te olhou e que se apaixonou perdidamente por tudo o que és.

Não te digo nada de novo. Já conheces todos estes elogios e declarações de amor de cor. Já sabes que és marcante e inigualável. Contudo, depois de passar mais de três anos contigo, não posso deixar de falar de ti. Já te ofereci sorrisos e gargalhadas, lágrimas e abraços… Deixei-te presenciar esses e muitos outros momentos que quis gravar em ti para que também te possas lembrar de mim se um dia for mesmo embora. Nunca me arrependerei de todos os quilómetros que já percorri (e percorro) só para te encontrar à minha espera de braços abertos.

Temos tantas histórias que nunca saberia por onde começar se as quisesse contar todas. E ainda teremos mais se nos for possível. Deste-me tanto e eu sinto que nunca te dei nada em troca. Fizeste-me crescer e aprender a andar sozinha (e, ainda assim, sempre muito bem acompanhada).  Não seria a pessoa que sou hoje se não te tivesse conhecido. Cheguei a pensar muitas vezes se não te teria conhecido tarde demais, contudo há destinos demasiado bem delineados e começaste a fazer parte de mim na altura certa.

Não quero imaginar os meus dias sem ver o teu rosto e o de todas as pessoas que me fizeste conhecer. Ainda não andei em todas as tuas ruelas, ainda não me sentei em todos os teus bancos, ainda não pisei todos os teus passeios. Já me perdi inúmeras vezes a fitar as luzes da ponte que tanto te marca, já me perdi e encontrei no reflexo que me mostra o teu rio, já te adorei e odiei mais vezes do que aquelas de que me recordo. Não te conheço melhor do que ninguém, mas apaixonei-me por ti como tantas outras pessoas antes de mim. Conquistou-me essa tua simpatia, essa forma de falar demasiado engraçada e apelativa, esses lugares que se tornaram tão especiais com o passar do tempo.

Um dia vou deixar-te. É o destino, tudo o que é bom é passageiro, especialmente tu. Mas levo comigo imagens que nenhum quadro ou fotografia poderiam ter. Levarei comigo essa música que chega nas entrelinhas da brisa que trazes. Levarei comigo as vozes das pessoas que encontrei enquanto te conhecia, os abraços, os beijos, as palavras… Levarei comigo as horas que passei a olhar-te sem dar pelo tempo passar. Nunca deixarás de ser uma casa para mim ainda que nunca aí tenha morado realmente. E se um dia for mesmo embora, nunca esquecerei como é voltar a casa ao passar a Serra do Pilar para te ver nascer como se nunca antes te tivesse visto. Serás sempre um mistério que nunca irei descobrir por completo, serás sempre a cidade das cidades, serás sempre a “Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto”, serás sempre uma casa cheia de memórias que nunca irei esquecer.

Porto, tive tantas saudades tuas e a triste verdade é que nem me apercebi disso.

BárbaraBorralhoLogoCrónica de Bárbara Borralho
Riso sem siso