Há não muitos anos atrás, considerava-me rebelde quando ficava acordada até às onze da noite a ver o Canal Panda sem os meus pais saberem. Ou quando cortava o cabelo às minhas Barbies e lhes arrancava membros (suspeito que há fortes probabilidades de eu um dia vir a ser uma temível sociopata). No entanto, hoje em dia, estes fatores já não contribuem para o meu estatuto de “pessoa razoavelmente rebelde”.
Como boa profissional que sou, andei a investigar esta questão da rebeldia nos jovens. Consultei a opinião de vários psicólogos, e grande parte deles afirma que a rebeldia na adolescência se deve a uma procura de uma espécie de espiritualidade dentro deles – jovens. Posso não ser licenciada em Psicologia (louvado seja Deus), mas a mim parece-me que a frase: “são rebeldes porque são estúpidos” foi terrivelmente mal escrita por parte destes psicólogos.
Vejamos o exemplo prático de Apolinário, um jovem alentejano de dezasseis anos. Apolinário foi nascido e criado no seio de uma família com bons costumes. Ia à escola, praticava desporto, ia à missa todos os domingos e era um miúdo bem-educado. Sabia estar sentado à mesa e usar a faca e o garfo corretamente. Não arrastava a cadeira quando se sentava, e pedia sempre licença para se levantar. Mas houve um dia em que Apolinário deixou de ser o Apolinário que a sua família até então conhecia.
Apolinário, a 18 de fevereiro de 2010, saiu da escola ao final da tarde, e regressou a casa de autocarro, como fazia sempre. No entanto, ao chegar junto de seus pais, era facilmente observável que Apolinário não era o mesmo. Apolinário estava mudado. Chegou a casa com todo um léxico desconhecido por parte dos restantes familiares e proferia palavras que seus pais nem tinham a certeza de serem aceites pela Bíblia ou pela comunidade cristã. As suas calças novas da Levis tinham sido brutalmente rasgadas e o seu cinto tinha desaparecido, deixando-lhe os boxers cinza da Calvin Klein à mostra. Os seus progenitores ainda ponderaram a hipótese de ter ocorrido um assalto a caminho de casa, mas quando confrontaram Apolinário com esta possibilidade, este apenas respondeu: Yó, niggas, bazem. Yolo, swag e vida loka, bitches! – como se já não bastasse o facto de trazer as calças ao nível dos joelhos e de se chamar Apolinário, o miúdo também falava como uma pessoa possuidora de uma deficiência mental… pobre criança.
A verdade é que todos temos um Apolinário dentro de nós (metaforicamente falando, claro). A única diferença é que nós não usamos cuecas da Calvin Klein, que não há dinheiro para isso. Mas, caros psicólogos, permitam-me que vos diga que essa teoria da procura da espiritualidade faz tanto sentido como um esquimó a escovar os dentes a um mamute enquanto este faz o pino e corta as unhas dos pés (perdão: patas) ao som do mais recente álbum do Justin Bieber.
Sim, Joana Camacho também se inclui neste fatídico grupo: “os adolescentes”. E Joana Camacho é igualmente estúpida quanto qualquer um deles. Anda com as cuecas de fora, sim. Mas exclusivamente porque não é particular apreciadora de cintos. Qualquer semelhança com uma tentativa de rebeldia é mera coincidência.
Caras pessoas que me leem: caso, por alguma razão, tencionem subornar a autora deste texto, permitam-me que vos deixe uma sugestão… chocolates. Montes e montes deles.
Crónica de Joana Camacho
A parva lá de casa
Isto é um texto melhor que o outro! Parabéns Joaninha! 🙂
Santos, tu andas-me a habituar tão mal, com esses comentários todos fofinhos!
Muito obrigada, linda. Um beijinho! 🙂
Posso comentar só “OMG”? 😀
Gosto da criatividade, humor e ironia. Bom texto, bem escrito e que boa gargalhada me proporcionou ao final do dia de trabalho. 🙂
Claro que pode, João! Ficaria ofendidíssima se não o fizesse ahaha.
Muito obrigada! É bom “ouvir” todos esses comentários (provavelmente excessivamente positivos, mas que me deixam muito feliz). 🙂
Beijinhos!
sempre a melhorar 🙂
Obrigada, Nuno. Faz-se por isso. Um beijinho. 🙂
Futuramente quando tiver que aturar um cliente chato vou usar a tua expressão: “Yó, niggas, bazem. Yolo, swag e vida loka, bitches!”
Depois digo-te como correu.
Excelente artigo, parabéns!
Ó Gil, depois do uso de “Yó, niggas, bazem. Yolo, swag e vida loka, bitches!” c’os fregueses, partilhe lá o resultado!
Estou em querer que é capaz de êxito…
Ahaha só uma sugestão, Gil: protege a cara quando o fizeres. Só para prevenir o caso de a coisa dar para o torto.
Fico à espera de saber novidades sobre o assunto! Ahaha obrigada e um beijinho! 🙂
Joana Camacho, Miss Toblerone (alcunha muito carinhosa)…
O que dizer desta crónica???? É brutal!
E pensar que, na minha juventude, ser rebelde era fingir estudar e ter um livro de BD no meio do manual… (e isto há coisa de meia dúzia de anos, entenda-se!)
Se eu balbuciasse, perto dos meus pais, algo como “Yó, niggas, bazem. Yolo, swag e vida loka, bitches!” e/ou rasgasse os jeans, quase aposto que ficaria com uma deficiência física, vitalícia…
Beijinhos e muitos parabéns
Que fofinha! “Miss Toblerone” é de facto uma alcunha absolutamente adorável. Muito obrigada, Laura. 🙂
Brutal?! He lá! “Altamente!” Cresci dois centímetros com esse comentário!
Isso de ler BD fingindo estudar já não se usa. No máximo manda-se SMS’s e joga-se consola, utilizando um livro de matemática A como disfarce ehehe.
E, sim, os meus pais fariam o mesmo. Por isso é que me limito a ser “totó” e não entro nessa coisa das rebeldias. Deixo isso para quem sabe.
Muito muito obrigada, mais uma vez, e um grande beijinho! 🙂
“…um esquimó a escovar os dentes a um mamute enquanto este faz o pino e corta as unhas dos pés (perdão: patas) ao som do mais recente álbum do Justin Bieber…” ahahah!
Tens um sentido de humor que fascina qualquer um. xD Adorei Joana!!
Olá, Diogo.
Eu sabia que essa analogia não ia passar impune. Devo dizer que a situação me pareceu fascinante na altura. Sempre gostei de esquimós… e de mamutes. Ahaha.
Ora essa, qual sentido de humor? Muito obrigada, Diogo. Beijinho. 🙂
Joana, demorei a responder-te pois só agora consigo mexer os dedos… Usei a tua expressão com um cliente aqui do trabalho e ele ia-me partindo os dedos com o teclado…
Estou a brincar… Não ousei fazer tal coisa, é porque parecendo que não, os dedos fazem-me falta para escrever a minha crónica semanal. eheh =)
Joana, as tuas crónicas são simplesmente um ESPECTÁCULO!Continua…que nós queremos muito!Tudo de bom.