Aquele Momento Mágico – Amílcar Monteiro

Após amarrotar o copo de plástico e, educadamente, arremessá-lo para o chão, enceto em mais uma aventura hercúlea que é ir buscar uma bebida num bar à uma e meia da manhã. Inicio então uma sessão de dribble de pessoas, até que finalmente chego ao balcão do bar, onde sou obrigado a “estacionar” na 3ª fila de pessoas que estão à espera para pedir. Enquanto aguardo a minha vez, decido perscutar o bar com o olhar, numa autêntica pantomina do movimento de um farol. Por entre os inúmeros bêbados,  posers e rameiras, reparo nela.

Não sei como não a tinha visto antes. A minha atenção fica totalmente concentrada naquela rapariga, ignorando todos os estímulos circundantes. O meu olhar, absolutamente detido nela, assemelha-se ao de uma criança que contempla algo de magnífico pela primeira vez. “E tu, vai ser o quê, pá?”, pergunta-me o barman pela terceira vez consecutiva, enquanto tenta captar a minha atenção. “Anh..Hmm..É um Malibu-7Up, se faz favor!”, replico. Ele, em uníssono com todas as pessoas que me rodeiam naquele preciso momento, solta uma sentida gargalhada. Mas isso não me afecta, pois a única coisa em que consigo pensar é naquela enebriante visão. Assola-me a incontrolável necessidade de vislumbrar aquela rapariga novamente.

Enquanto o alquimista reúne e prepara todos os ingredientes necessários para a poção que lhe encomendei, decido olhá-la uma vez mais. Surpreendentemente, este segundo olhar desperta-me exactamente a mesma reacção que tive quando a vi pela primeira vez, há instantes atrás. Impressionante. E, da mesma maneira, não o consigo desviar por um nanosegundo que seja. É como se, naquele instante, mais nada existisse para além dela. Eis que senão quando sinto nas costas aquela palmada cúmplice de um amigo meu, ao mesmo tempo que me informa: “’Tás a dar uma granda cana, miúdo…”. Por breves momentos fico assustado, mas depois, assumindo uma postura confiante e decidida, respondo-lhe: “Quero lá saber se estou a dar cana! Tens de concordar que não é todas as noites que se vê uma gaja com dois cotos num bar!”.

Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
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