Esta crónica, a primeira de 2012, poderia ser uma espécie de mais do mesmo: um relato preocupado de uma jovem que receia, como tantas outras, pelo futuro do seu país e consequentemente, pelo seu próprio futuro.
Acontece que, na realidade, não me identifico minimamente com os jovens deste país. Recuso-me terminantemente, por exemplo, a intitular-me “à rasca”, pois que venho de uma família de desenrascados, onde a dificuldade se traduz num incentivo maior a luta. Portanto, não alinho em manifestações da treta, onde a indignação tem hora e local marcados, onde a indignação se assemelha a um sobretudo que vestimos para sair á rua. Prefiro manter-me silenciosa, á distância, ouvindo e lendo quem sabe e tirando as minhas próprias conclusões. Porque se nos indignamos, isto deve nascer do nosso íntimo, sobre os nossos porquês. E não como um espécie de onda silenciosa inflamada por megafones.
Depois, chateia-me sobremaneira aqueles, mais velhos é certo, que erguem a voz em forma de protestos imprudentes, com base no que ouviram no café ou na última conversa com a vizinha. É quase como falar de sexo depois de ler o Consultório Intimo da revista Maria!
Porém, há que ser justa: se há muitos que se recusam já a assistir ao telejornal na ideia vã de escapar às notícias impetuosas que vêm surgindo, outros tantos há que passaram a tomar mais atenção às teorias explicativas deste bambolear económico. São os efeitos da ressaca! A ressaca económica de um país que durante anos, viveu claramente acima das suas possibilidades. E não é necessário falar com a vizinha para perceber isto!
Enfim, talvez esta crónica seja realmente mais do mesmo e eu não passe de mais uma jovem que poderia estar á rasca mas que se vai desenrascando. A par disto, há uma crise económica a moldar mentalidades e conversas de café e vizinhança. Mas cuidado, pois nem tudo é tão mau quanto parece. E mesmo entre indignados, informados e desinteressados, ainda vejo uma réstia de esperança!
Crónica de Ana Rita Ventura
Atributos e Predicados
Mais crónicas
EU PROCRASTINO, E TU?
As mulheres merecem um amor feliz
O MEU MUNDO INVERTIDO