“Basta!” – Nuno Araújo

Aí estão mais medidas de austeridade. Já todos as esperávamos, porque é aquilo que este governo vale. Agora a trapaça para com os portugueses é bem real e notória.

Sempre ouvi dizer a expressão “quem dá e tira para o inferno gira”. Pois é, Passos Coelho referiu na passada Sexta-feira que vai repôr um dos subsídios suspensos aos funcionários públicos, para depois retirá-lo, com o aumento de 11 para 18% no montante mínimo de descontos para a Segurança Social. São sete pontos percentuais. Para quê? Para retirar à mesma esse subsídio reposto. É tempo de dizer basta!

Para impedir o crescimento do desemprego, disse Passos Coelho. Diminua-se de 23,75 para 18% a contribuição para a Segurança Social por parte das empresas. É tempo de dizer basta!

Os trabalhadores, com efeito, suportarão o aumento geral de 2% nas contribuições para a segurança social *. Se este ano o défice ficar nos 5,3% (nesta semana isso será confirmado, ou não), e em 2013 não puder ultrapassar 3%, Portugal terá então cumprido estes objectivos, terá suportado mais esta dose de austeridade. Mas o Portugal de 2014 será um país então devastado pelas medidas agressivas, pelo ataque desmesurado e sem comparação ao mais comum dos portugueses. É necessário “dar um murro na mesa”.

Desemprego mais alto de sempre; níveis de endividamento do estado, pessoas e empresas mais altos de sempre; nível de falências de empresas mais alto de sempre; fluxo de emigração de jovens mais alto de sempre. Este governo tem sido pródigo em bater recordes lamentáveis, representando o melhor do que a maioria PSD-CDS tem para oferecer ao nosso país.

O cariz liberal deste governo, que advoga a “desmantelação” do estado social, vê-se na trapaceira que é a concessão da RTP a privados; observa-se melhor na forma como se destrói o sector público da saúde; atenta-se na vergonhosa estratégia para a educação; e que dizer da inércia mostrada por este executivo PSD-CDS quanto ao aumento desenfreado do preço dos combustíveis?

A maioria PSD-CDS tem seguido a cartilha “merkeliana”, que só tem dado dissabores aos portugueses. A carga fiscal é elevadíssima e nem chega para baixar o défice, as taxas moderadoras aumentam e unidades de saúde públicas encerram, os preços dos transportes públicos sobem e a dívida acumulada desse sector aumenta para o dobro, a educação está à deriva. Privar os portugueses de serviços públicos de qualidade é privar os portugueses de dignidade.

As políticas para o emprego são inúteis**. O desemprego sobe a cada mês que passa, e esta austeridade cega imposta pelo executivo PSD-CDS só piora o clima económico. Apostar em mais austeridade é recusar o crescimento, é sentenciar Portugal a um tenebroso caminho de pobreza e mais recessão.

Quando mais de 35 % dos jovens se encontra no desemprego, é porque o governo não apoia a economia a favor das pessoas; quando se impõem sacrifícios a 2 milhões de portugueses que vivem na pobreza; quando o governo priva 600 mil funcionários públicos do direito a auferirem subsídio de férias e natal; o governo falhou em toda a linha e não tem qualquer margem para implementar mais receitas de austeridade. Por isso, há que dizer: basta!

Assine manifesto contra aumento de impostos: http://economico.sapo.pt/noticias/economico-promove-manifesto-contra-novo-aumento-de-impostos_151295.html

Outras notas

Começo por lembrar que esta semana há duas datas especialmente importantes: 12 e 13 de Setembro. Dia 12 marca o dia em que o Tribunal Constitucional Alemão dirá, de sua justiça, acerca das acções interpostas contra o Mecanismo de Estabilidade Europeu, enquanto que no dia 13 se exige que milhões de portugueses estejam no parlamento europeu, em Bruxelas, porque nesse sítio se vai votar uma proposta de alteração do processo de secagem natural do bacalhau, por outro que recorre a fosfatos que irão alterar o sabor e tempo de secagem do mesmo***.

A semana que passou teve uma novidade importante para o futuro da zona euro, e da própria União Europeia (UE). A decisão Banco Central Europeu (BCE) em comprar, nos mercados secundários, títulos de dívida europeia de países assistidos financeiramente é extremamente importante. Mas tem um senão: esses países só terão esse apoio aquando do fim desse programa de ajustamento, ou seja, quando o país deixar de receber o empréstimo e tiver de pagá-lo, é nessa altura que o país venderá esses títulos de dívida soberana.

Tal decisão fez com que as principais bolsas europeias, incluindo o PSI 20, aumentassem os ganhos. Um pequeno grande passo para a recuperação europeia, essencial para garantir o funcionamento das instituições europeias a favor do euro e das economias europeias. Importantíssimo, sobretudo num ano em que se prevê recessão generalizada na zona euro.

* até 2012: 23,75 % + 11 % = 34,75 %; a partir de 2013: 18 % + 18 % = 36 %

** lembra-se daquela oferta de emprego cuja candidata estava escolhida à partida? Veja o link: http://a6.sphotos.ak.fbcdn.net/hphotos-ak-ash4/386835_457729290934669_1701794075_n.jpg

*** proposta da Comissão Europeia, e de lobbies nórdicos; consultar http://www.delegptpse.eu/pspe/?area=deputados&id_deputado=DEP410792e12710d&tipo=Perguntas%20Parlamentares&id=NOT4f4ccff2a7d8d e http://www.beinternacional.eu/pt/videos/2854-qtirem-a-mao-do-nosso-bacalhauq


Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana