Bruxarias e outras m… – Sandra Castro

Antes de começar a redigir a minha crónica quero esclarecer os leitores que ao contrário do que as mentes perversas possam pensar, o título não termina em bruxarias e outras merdas mas sim em bruxarias e outras manias, porque tenho um grande respeito por todo o que envolve as ciências ocultas.

Esta crónica vem a propósito de uma conversa com uma cliente sobre um javali e uma fogueira mas conto-vos esta pequena história no final.

Confesso que já fui a uma taróloga, a uma cartomante e a um bruxo-vidente, há algum tempo atrás quando eu tristemente pensava que saber algumas coisa sobre o meu passado e futuro eram a chave para o sucesso do meu presente.



 

A última vez que fui a uma consulta com um bruxo-vidente fiquei tão impressionada com a veracidade do que ele disse, e com a quantidade de santos e velas expostos num quarto tão pequeno, que saí de la a correr com a promessa feita a mim mesma e aos anjinhos que nunca mais punha os pés em consultas para estes fins.

Honestamente acredito nas ciências ocultas. Acredito na vida depois da morte, que os mortos andam por aí (a soprar-nos ao ouvido como dizem) por terem assuntos pendentes na terra dos vivos.

Também acredito que existam pessoas com capacidades sobrenaturais e extraordinárias que bem estudadas e trabalhadas consigam prever o futuro.

Eu própria tenho um sexto sentido muito apurado que dá sinais quando alguma coisa não está bem, quando conheço pessoas que não vão favorecer a minha vida e quando há presenças pós-vida em algum lugar que eu esteja. Não caros leitores não me perguntem quanto é que eu cobro por consulta porque eu não faço consultas! Lamento! Tenho a vida e a cabeça muito ocupadas com coisas importantes não me permitindo (e ainda bem) ter tempo para nada disso.

O que acontece muitas das vezes nesse tipo de consultas é que não adivinham o futuro de uma forma concreta, mas sim de uma forma geral e muito vaga, deixando a pessoa ainda com mais dúvidas e sobretudo com mais cismas do que as que tinha. Passo a exemplificar, a vidente não nos diz: a sua mãe vai morrer no mês de Março deste ano. Diz-nos apenas: alguém que gosta muito vai morrer este ano. E nós, seres impacientes, ficamos a cismar dias e dias naquela frase a pensar quem será o pobre coitado que tanto amamos que vai bater as botas este ano.

Dizem-nos: o seu marido tem uma amante, é uma colega de trabalho e ela fez um trabalhinho numa bruxa para ficar com ele. E nós, seres idiotas, acreditamos piamente e iniciamos uma era triste e deprimente de desconfianças e choradeiras sem fim, culpando a ele, à gaja e à bruxa! Quando o mais sensato seria pensarmos: ele traiu-me! Embora custe muito admitir este fracasso a culpa também é minha porque não me cuido, não me arranjo, não faço amor, nem cuido dele, só vivo para os filhos, trabalho e amigas quando tenho um marido ansioso para estar comigo.Há que mudar esta situaçao já hoje…percebem a diferença?


Mas o que me espanta mesmo é a conversa ridícula que se ouve em todos os espaços públicos sobre mau-olhado. A frase é típica e em nada original: Aparece-me de tudo! Tudo me acontece! Deve ser mau-olhado! Alguém me quer mal mas não vão conseguir! Cambada de invejosos!

Gente! Hello! Acordem! A vida não é um mar de rosas, toda a gente tem problemas! Porque é que qualquer problema que tenhamos, mesmo que seja insignificante, culpamos sempre os outros? Porque é que não pensamos que se temos um problema ou vários na nossa vida, a culpa também poderá ser nossa e que a única solução é resolvê-los? Para quê as mezinhas, as águas bentas, as rezas, as velinhas e essa merda toda contra a inveja alheia? Mas sobretudo porque raio é que as pessoas se dariam ao trabalho de nos invejar e de nos provocar mau-estar através do mau-olhado se nós não temos aonde cair mortos?!!!

Eu já ouvi falar em tantos rituais de magia negra, desde terra à porta de casa, sapos degolados, galinhas mortas e depenadas, velinhas pretas, águas para banho, fios de cabelos e cuecas dos maridos, sangue menstrual a dar de beber, fotografias e incensos queimados deitados no mar, mas de um javali morto numa fogueira na via pública nunca tinha ouvido falar!

Eu inocentemente perguntei mas porque é que alguém ia colocar um javali a arder numa fogueira em plena rua? Ainda por cima perto de um parque infantil? E a resposta foi clara: para matar! O quê? Desculpa? Devo ter percebido mal! Então já não bastava as muitas formas que temos para morrer agora há mais uma? Eu pensava que morríamos de velhice, ou de alguma doença ou de um acidente na estrada, não sabia que também podíamos falecer por causa de um javali a arder numa fogueira!

Eu respondi a essa afirmação bombástica com uma resposta satírica: Oh Dona, ainda bem que eu não tenho aonde cair morta porque assim não tenho motivos para ser invejada e as pessoas não me fazem mal! E ela respondeu com aquele olhar astucioso e suspeito de bruxa: Sandra, às vezes isso é um engano!

Caros leitores acho que não é preciso ter um sexto sentido para perceberem que esta crónica tem um to be continuous….ah ah ah ah (riso maléfico).

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense