Cavaco: uma parte do problema – Nuno Araújo

O conselho de estado é daquele tipo de reuniões que parece prometer muito, mas que depois pouco corresponde a esses anseios. Provavelmente porque o inquilino do Palácio de Belém poderia fazer jus à sua experiência política. Esse “background” só diria a Cavaco Silva que o país precisa de eleições antecipadas, muito mais do que abordar cenários pós-troika. Mais: abordar cenários pós-troika é somente uma “fuga para a frente”, ou se antes quisermos, “fait-divers” que tentam desviar as atenções daquilo que é crucial para Portugal: como resolver a tragédia do desemprego, da fome e da miséria em que o nosso país está mergulhado. Infelizmente, um Presidente da República como o que Portugal tem, e que parece continuar a apoiar um governo neoliberal e súbdito da “Rainha” Angela Merkel, só contribui para fazer parte do problema, e não da solução.

Senão, como interpretar a tentativa gorada de Cavaco “colar” o PS ao governo PSD-CDS, invocando uma espécie de “convergência” dos socialistas com as políticas do governo?

Falar do fim do euro, ou da saída de Portugal da zona euro, parece-me no momento actual uma decisão muito mais ponderada e assertiva, por parte do Presidente da República, até porque o tema da reunião era, e leia-se: “Perspectivas da economia portuguesa no pós-troika, no quadro de uma União Económica e Monetária efectiva e aprofundada”.

Posto isto, como fazer face ao um presidente que apoia um governo que faz descer o IRC apenas para empresas que se disponham realizar investimentos (quais)? Não seria mais sensato aliviar a carga fiscal às micro, pequenas e médias empresas, que tentam todos os dias sobreviver à asfixia fiscal reinante no nosso país? É que somente apoiando as micro e PME’s que se reconquista a soberania financeira e económica, não recorrendo à formula do facilitismo, que consiste sempre em fornecer apoio ao grande capital, que cria investimento muita vezes pouco visível ao “olho nu” de um qualquer cidadão comum.

O ajustamento a que o nosso país vem a ser sujeito desde 2011, ano de entrada em vigor do plano de assistência financeira, já produziu vários resultados desejados pelas instâncias internacionais. Isso, no entanto, não significa que se deva “medicar” mais a nossa economia, pois corre-se o perigo de “matar o doente com a cura” em vez de “morrer devido à doença”. Daí que se deva dizer, com todas as letras: basta de austeridade!

United against austerity!

O Conselho europeu durou apenas um tarde, excepcionalmente. Lá, falou-se de evasão fiscal e política energética. Não me irei debater sobre o tema da energia, até porque a “batalha” da UE com a China ainda agora começou.

Abordando a temática da evasão fiscal, não posso deixar de citar o exemplo da Grã-Bretanha. David Cameron, primeiro-ministro britânico, podia colectar 120 mil milhões de euros, que são perdidos e depois desviados dos serviços essenciais garantidos pelo governo britânico, como a saúde e educação. Esse valor, de 120 mil milhões de euros, cobre quase na totalidade o défice orçamental britânico. “Shame on you, Mr. David Cameron!”

Sempre que me lembro da taxa de crescimento da Alemanha, situada em 0,1%, tenho de concluir que Angela Merkel está a “provar do seu próprio veneno”. Incentivando os países como Portugal, Grécia, Chipre, Irlanda, Espanha e Itália a impor medidas de austeridade aos seus povos, o governo alemão vai leiloando dívida pública com juros de 0 %, mas vai perdendo volume de negócio, pois deixa de ter quem lhe compre Mercedes, BMW, e todas as máquinas produzidas em terras da Floresta Negra…

Será que é tarde demais para a recuperação das economias em recessão? Será que ainda vamos a tempo de salvar, e até quem sabe reforçar a solidariedade europeia, que tem sido posta em causa devido à “febre da austeridade”? Creio que sim…sou europeísta e acredito no valor da UE e zona euro!

Algo terá de ser feito, no entanto. Quase cinco anos passados da crise norte-americana que alastrou à Europa, muito dinheiro continua escondido…muito dinheiro criado virtualmente mas que agora é bem real e está guardado nas ilhas britânicas do Canal, como Jersey (mais de 140 mil milhões de euros, só em depósitos de fundos de investimento), e que são zonas mais do que francas, não se pagam impostos nenhuns…a verdade anda por aí…estima-se que 21 a 32 triliões de dólares estejam “acomodados” em paraísos fiscais…valor suficiente para pagar seis vezes a dívida externa de todos os países em desenvolvimento! Façam as contas, tenham coragem, senhores e senhoras líderes da Europa, o dinheiro perdido devido a evasão fiscal está guardado “ao virar da esquina”, e aqueles que quiserem obter aprovação enquanto governantes, terão de demonstrar coragem e parar com políticas de austeridade que sufocam os cidadãos europeus!

Eleições nos Pelourinhos 2013

Este ano de 2013 marcará uma viragem no tipo de campanhas eleitorais efectuadas pela maioria dos partidos e demais movimentos concorrentes a eleições. Essa viragem prende-se, no essencial, com a diminuição muito natural das verbas destinadas à execução de campanhas no “terreno”. A austeridade “carimbou” o fim das distribuições de canetas, camisolas, porta-chaves, balões e outros “recuerdos” tidos como indispensáveis em qualquer campanha eleitoral. Por isso, os candidatos vistos como “populistas” terão mesmo de apresentar propostas para vencer eleições.

Este acto eleitoral será um barómetro muito interessante para percebermos duas coisas essenciais: uma primeira, que se prende com o nível de insatisfação popular para com os partidos do governo, e que poderá, ou não, castigar os resultados eleitorais de PSD e CDS. Uma segunda terá a ver com o nível de insatisfação dos eleitores para com aqueles que os governam e representam, sobretudo porque em França e noutros países mediterrânicos se verificam alterações de popularidade de candidatos eleitos para cargos de presidência da República e de autarquias, alterações essas verificadas em muito pouco tempo. O melhor exemplo terá a ver com François Hollande, Presidente da República de França, que menos de ano passado sobre a sua eleição, tem resultados em sondagens que não lhe permitiriam sequer a passagem à segunda volta de um acto eleitoral.

Portanto, os eleitores da “zona sul” da Europa querem mudanças, e rápidas, pois estão fartos de desemprego, pobreza, fome, miséria e incompreensão, num misto de quem muitas vezes se sente relegado “para trás”. O poder político tem mesmo que actuar e não abandonar ninguém, pois em democracia todos são válidos e ninguém deve ser deixado “para trás”.

Em Oeiras, há quem queira afirmar a existência de um “novo Pedro” e de uma “nova Catarina”. A assinatura foi de Moita Flores, mas o nome PSD apareceu somente escrito “a posteriori” nalguns cartazes…porquê? Enfim, velhas tácticas escondem as “novas ambições” de quem decidiu “abandonar” gentes de uma localidade que já “deitava água” por todo os lados, como foi Ribeira em Santarém. Oeiras não precisa destas “novas ambições”… Por outro lado, o que Oeiras também não precisa é de “castelos” ao jeito dos de D. Quixote de la Mancha ou de “mamarrachos” inacabados que são o legado político do actual Executivo camarário.

O concelho de Oeiras tem de ser unido em torno de rigor, transparência e democracia, e de novos projectos virados para a população e centrados nas necessidades reais das pessoas.

No Porto, o tribunal da 4ª Vara Cível aceitou a providência cautelar interposta pelo “revolução branca” (que está contra “candidatos-dinossauros”) que contesta a candidatura de Luís Filipe Menezes à Câmara Municipal da Invicta. Para Menezes e para o PSD, foi uma semana de mal a pior, pois o Pizarro do PS acusou o Estado (o governo, portanto) de “apoucar” os moradores do bairro de Contumil, que está em obras de beneficiação, ainda com resultados inexistentes. Como se isto não bastasse, Rui Moreira, o “coveiro” da direita política na cidade do Porto, pretende mais policiamento nas ruas da baixa portuense e videovigilância nas ruas, o que vem retirar margem de manobra para Menezes e o PSD elaborarem um programa eleitoral para a sua candidatura. Isto é, presumindo que Menezes será mesmo candidato pelo PSD à autarquia do Porto…

Em Cascais, Carlos Carreiras, o actual presidente da Câmara local, parece ter receio de afirmar a sua militância no PSD. Senão, como explicar com clareza o facto de os seus cartazes de promoção à sua candidatura à câmara de Cascais serem coloridos de azul? Que eu saiba, o PSD é cor-de-laranja, e o CDS é que é azul. Seja laranja ou azul, a má política do PSD é sempre indisfarçável…

 

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana