«Como não sentir gratidão?» – Patrícia Marques

«Ensinaram-me que é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado. Enquanto seres e pessoas somos dispostos à realidade do mundo, e é por vezes essa realidade que pode distorcer a interpretação das ações e comportamentos humanos. O investigador Milton Athaíde disse uma vez, falando dos deveres, prevenções e intervenções de cada um: «…mas isso a gente já sabe não é…o meio é que é infiel, não as pessoas…». Desde aí penso nessa frase integrando-a na minha vida. Sendo que assim é…o meio oferece condições para que a pessoa possa agir pró-ativamente, com seus valores e competências para de modo correto deixar pegadas positivas no mundo.

«Como não sentir gratidão?», pelos ensinamentos de todos os dias, mas sobretudo pelos pequenos momentos de realização feliz. Esta felicidade pode ser o ponto onde o rácio e a imaginação se encontram, dando origem às pequenas maravilhas que o homem ainda é capaz de deixar de si. «Porque pensamos na felicidade apenas quando estamos infelizes?; porque amamos “ilusoriamente” (a 100%) quando se está ausente da pessoa amada?» Talvez o verdadeiro sentido de viver esteja realmente no sentimento de gratidão, minuto a minuto, segundo a segundo, como um bater preenchido de alegria diante da alegria, de amor perante o amor, de felicidade diante da felicidade. O sentimento de pertença no mundo advém da riqueza que temos: a família; esse grande núcleo amigável que vai preenchendo os nossos dias de momentos, surgindo daí os dias, os anos, a vida.

«Como não sentir gratidão?» pela mão que auxilia em tempos difíceis, pela palavra que consola ao homem rico ou ao homem pobre, pelo sentimento de carinho, pela cumplicidade que serve, pelo que se dá sem olhar para trás, pelo acariciar do nosso espírito, pelas razões e motivos que nos levam a achar esperança, pelas oportunidades, conquistas, pelas advertências, pela proteção, pela verdade, pela escolha…

Escolher a ousadia de fazer e de realizar, leva os nossos valores e ideias utópicas, i.é., que se assumem apenas no plano da consciência, a tornarem-se uma realidade. Criar é um processo de dar sem fim; um processo que talvez se inicie apenas no termo da solidariedade, mas que depois se estenda a todas as esferas da nossa vida, tornando-as mais humanas e mais vívidas. «Como não sentir gratidão?» pelo copo de água oferecido, ou pelo saborear de um acontecimento, de um alimento, de um lugar, da natureza; e que pássaros se transformam e nos vêm dizer olá e que estão connosco. São as lembranças debicadas na memória que nos vêm trazer os minutos mais felizes de uma vida. A cascata que lava, o beijo que cura, a alegria que inebria, o bem-estar que nos deixa em plena relação com o sentimento de paz.

Crónica de Patrícia Marques
Um lugar ao Sol
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