A «família» reunida

Como um trovão – um filme a não perder – Rogério Medeiros

A «família» reunida
A «família» reunida

Luke Glaton é um aventureiro solitário, que canaliza as suas habilidades como piloto de motos fazendo acrobacias, com mais alguns colegas, dentro de uma esfera metálica, inserido num parque de diversões itinerante. Há um ano conheceu Romina e agora está prestes a partir, para regressar muito provavelmente só ao fim do mesmo período de tempo.

O pequeno Jason é seu filho, embora Romina não lhe tenha dito nada. Ao descobrir, Luke despede-se das suas funções, renuncia ao seu anterior modo de vida e quer assumir o papel de pai, já que ele próprio esteve privado de uma figura paterna.

Romina vive com um outro homem, Kofi, e com a sua mãe, na casa daquele. Luke assiste de longe ao batizado do filho e é como se ele próprio renascesse. Arranja trabalho numa loja de mecânica mas é o próprio dono, Robin, que acaba por aliciá-lo a fazer um assalto a um banco. O homem já tem experiência nesse tipo de crime e vê em Luke o parceiro ideal.

O primeiro assalto corre bem e aventuram-se num segundo. A certa altura, Luke quer prosseguir, com o que Robin não está de acordo. A sua incursão sozinho num banco não é bem-sucedida. A polícia persegue-o de carro. Depois é obrigado a fugir a pé e esconde-se numa casa.

Cabe ao polícia Avery Cross entrar na habitação e capturá-lo. Quando ambos se encontram numa divisão, Luke acaba por balear o polícia, antes de se atirar da janela e morrer no chão em baixo.

A polícia levanta uma breve investigação. Afinal, quem atingiu quem primeiro? Avery terá disparado primeiro?

Ultrapassado o caso, Avery é sem dúvida um herói. Livrou a comunidade de um bandido, ato pelo qual recebe uma medalha de honra. Em meio ano na polícia e com 29 anos, dizem-lhe os colegas, «já limpou um tipo».

Ele também tem um filho, de um ano, e o episódio na residência deixa-lhe marcas. Atormenta-se por aquela criança que ficou sem um pai.

Quinze anos mais tarde, as vidas do filho de Avery e do filho de Luke cruzam-se. AJ muda-se para a escola de Jason. Ambos são problemáticos, com o primeiro a descambar e o segundo sem rumo. Envolvem-se no consumo de drogas e faltam às aulas.

Jason descobre o passado do pai, que a mãe lhe dissera ter morrido num acidente de carro. E numa festa em casa de AJ verifica que o pai deste é afinal o polícia que disparou contra o pai.

Num formato claramente tripartido (a primeira fase a pertencer a Luke, a segunda a ser protagonizada por Avery e a terceira a ser dividida pelos dois jovens), este é um filme em que a segunda geração «carrega» as histórias e personalidades da primeira geração. A violência, a errância, o gosto pelo perigo e pelo risco podem ser encontrados nos pais como depois nos filhos. Jason educado pela mãe e por Kofi, mas que não é o seu pai verdadeiro. AJ, filho de progenitores separados, e com um pai sem tempo para ele.

Com um título original bem mais original – passo a redundância – “O sítio para lá dos pinheiros” (“The Place Beyond the Pines”), esta é uma história interessante sobre a reprodução geracional de padrões de personalidade e comportamentos, em que o final conseguirá surpreendê-lo, fugindo à costumada consumação da vingança.

Até para a semana.

Rogério MedeirosLogoCrónica de Rogério Medeiros
O Pequeno e o Grande ecrã
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