Companheira – Amílcar Monteiro

Não posso deixar de reparar que ela está em baixo, abatida, murcha. Sinto que a culpa é minha. Sei que a culpa é minha. Afinal de contas, não lhe dei comida durante o fim-de-semana inteiro. É verdade que estive ocupado a trabalhar, mas isso não é desculpa. Passo-lhe a mão por cima, dizendo “Pronto, linda, pronto…”. Aparenta ficar mais animada. É nestes momentos que reconheço o seu verdadeiro valor. A única companheira que esteve sempre presente… no melhor e no pior. Nunca me abandonou. Acaricio-a uma vez mais. “Anda, companheira, eu sei o que precisas”, digo-lhe, como se ela compreendesse. Ela levanta-se, de imediato. Sabe que lhe vou dar de comer. Encontra-se num claro estado de excitação, apesar de nem ser a sua comida preferida. Ela está habituada ao bom e ao melhor. Esta comida foi adquirida à última da hora, em desespero de causa. Não obstante, preparo-a: abro as pernas da prostituta   jamaicana que apanhei no Técnico, há 10 minutos atrás. A pila é sem dúvida a mais inseparável companheira do homem.



Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
Visite o blog do autor: aqui