Compreender “a criança familiar” – Patrícia Marques

Desde cedo a criança compreende-se na sociedade, recebendo o feedback dos seus parceiros, isto é, de outras crianças, e em maior percentagem dos seus pais e familiares mais próximos.

Geralmente, nos dias de hoje tende-se a associar tecnologias – criança – individualismo exagerado ou socialismo minorado, no entanto, a criança de hoje também é a criança familiar.

            Quem é a criança familiar?

–        É aquela que enquanto pessoa, cumpre as suas funções de criança, em relação ao resto da estrutura familiar;

–        É aquela que delimitando as suas competências inatas e adquiridas, isto é, genéticas e aprendidas, responde às necessidades familiares;

–        É aquela que ao valorizar-se, enriquece a sua família e permanece como um membro activo no seu sistema familiar;

–        É a criança que contribui para a harmonia familiar, dadas as suas condições e contributos ao nivel físico, psíquico e espiritual.

Estando no seio da família, a criança movimenta-se em diferentes categorias direccionais:

–        para os seus pais e irmãos;

–        para os seus amigos;

–        para as demais pessoas, mais ou menos próximas;

–        para os espaços, como sejam a casa, a escola, o espaço de lazer;

–        para as materialidades, como sejam objectos, estímulos ambientais;

–        etc.

Quais são as funções da criança familiar?

 

            Por funções entende-se um conjunto de actividades e de acções, compreendidas para a pessoa – criança, com vista a satisfazer as suas próprias necessidades e as da sociedade em geral.

Por sua vez, a criança familiar distingue-se da restante estrutura familiar, pela prática deste tipo de atividades e acções. Reconhece que deste modo se pode valorizar e sustentabilizar o aproveitamento da sua família.

Exemplos:       “Vou à escola…vou tentar comportar-me bem…a mãe ía ficar contente!”

“Tenho de arrumar os brinquedos…antes que o pai chegue…assim a sala não está desarrumada quando ele chegar!”

                       

            Quais são as necessidades familiares?

 

            A criança familiar tende a usufruir das suas competências inatas e adquiridas com vista a responder a necessidades familiares. Estas necessidades são muitas vezes constatadas pela criança, como sendo essenciais de serem respondidas. Deste modo, esta dispõem-se a responder com a “bagagem” que traz consigo, isto é, com tudo aquilo que é e tem.

Na estrutura familiar, esta satisfação de necessidades por parte da criança, pode fazer toda a diferença. De que modo? Os elementos da sua família, ao constatarem esta preocupação por parte da criança, em responder a tais necessidades, podem sentir a sua valiosidade para o gradual enriquecer familiar.

Exemplos:       “Mana, deixa lá…não estejas triste!”

                                   “Pai, não te esqueças que amanhã é o aniversário da mãe!”

                                   “O avô é um bricalhão…”

                                  

O que é o ‘Enriquecimento Familiar’?

 

            A base do enriquecimento familiar, traduz-se no conjunto de acções e atitudes de valor, por parte de todos os elementos que constituem a família. Deste modo, a criança familiar tende a utilizar os seus valores, “afirmando-se” como um membro activo dentro do seu sistema familiar.

Esta afirmação é um espelho da sua valorização e por consequência, da percepção que a restante estrutura familiar tem da mesma. Assim, a criança posiciona-se como um membro activo e enriquecedor.

Exemplos:       “ Mãe, a professora disse que apesar do meu aproveitamento ser médio, o meu comportamento era muito bom!”

                                   “Pai, trouxe-te um desenho.”

                                   A criança olha para o pai e para a mãe, de forma ternurenta.

                       

            Harmonia Familiar

 

            Por vezes os problemas que induzem à desarmonia familiar, podem advir de condições extrínsecas e/ou intrínsecas aos elementos que constituem a estrutura familiar. Deste modo, o contributo de todos os elementos, pode ser imprescindível para a harmonia familiar constar desde logo no seio de uma família.

A criança familiar usufrui portanto de tudo aquilo que é, enquanto pessoa e enquanto pessoa em aprendizagem, para “acrescentar” e /ou “amenizar” os obstáculos que a sua familia vai encontrando ao longo do tempo.

Exemplos:

                        “Mãe, deixa lá…não fiques assim tristinha!”

                        “Tenta colaborar, filho!” – diz o pai

                        “Sim pai, vou tentar…” – diz o filho

            

 A criança familiar é entendida como alguém capaz de recuperar o que tem de melhor, e colocá-lo em prol da sua família. Talvez desde sempre, a criança tenha sido considerada criança familiar, principalmente pelos seus cuidadores, como sejam os pais.

No entanto, hoje mais do que nunca, a harmonia familiar também necessita de ser revista à luz da criança e do seu contributo na família.

Crónica de Patrícia Marques
Um lugar ao Sol