Contos de fadas – Bruno Neves

Sempre gostei de ler. Desde pequeno que a leitura é uma paixão e não uma obrigação. Ainda hoje sou assim, embora obviamente não aprecie igualmente todos os géneros, mas enquanto jovem petiz apreciava especialmente os contos infantis, ou seja, os chamados “contos de fadas”.

Apesar de não perceber a totalidade daquilo que lia eu entendia a mensagem principal: fosse qual fosse a história o príncipe ficaria sempre com a princesa no final. E quem diz príncipes e princesas diz todas as restantes variações, porque a ideia era: os “bons” ficam sempre juntos no final enquanto os “maus” são sempre castigados e acabam sempre punidos.

E o ponto principal deste texto chega agora….é que eu sinto-me enganado. Sinto que me mentiram toda uma vida. É que nos contos de fadas os ditos “maus” da fita nunca ficam com as moças no final da história, já na vida real são mais as vezes que nós os ditos “bons” da fita (pelo menos aos nossos olhos) ficamos de mãos a abanar.

Alguém devia de alertar os jovens rapazes de que as raparigas têm um particular fascínio pelos chamados “bad boys”, ou seja, pelos rebeldes. Algo que raramente acontece nas historietas que lemos em crianças, não estando nós preparados para tal eventualidade quando atingimos esse estado da nossa evolução. Este encantamento parece inexplicável e certamente que o seguinte cenário já aconteceu vezes sem conta: entre um rapaz bem-apessoado, honesto, sincero e verdadeiro mas timido, e o típico “pintas”, rebelde na maneira de ser e nas suas atitudes, tão sincero e verdadeiro quanto um político quando é apanhado a contradizer-se ou em incumprimento com uma promessa eleitoral mas confiante e atrevido a moça acabar por escolher a segunda opção em detrimento da primeira.

Eu percebo parte desse fascínio, porque é muito mais entusiasmante estar com alguém em certa medida imprevisível e capaz de arricar para conseguir algo que ambiciona. Contem uma grande dose de adrenalina. Agora não percebo como é que sabendo à partida que o fim será trágico não abandonam o barco antes de ele afundar ou porque é que sequer entraram no barco! Mas se calhar sou só eu que não percebo….e agora dizem vocês “ah então e o contrário não acontece?” E eu respondo-vos que sim, claro que sim. Mas não comigo pessoalmente. Confesso que não sinto nenhum tipo de admiração por esse tipo de mulheres, mas aí já são os meus gostos pessoais a falar mais alto.

Acho também necessário quebrar aqui o mito de que os homens não choram por amor. Essa história de que “um homem não chora” é tudo treta. Chora e por vezes não é pouco. Há respostas que custam bastante ouvir assim como há atitudes que custa muito ver outras pessoas terem. E há dores que demoram o seu tempo a passar assim como há buracos na alma que persistem por muito tempo. Nem todas as feridas saram rapidamente e os males do coração são especialmente dolorosos de ultrapassar.

Portanto, petizada lamento desiludir-vos mas o amor não é um mar de rosas. Por vezes é um caminho bem espinhoso e árduo, e certamente que nem sempre vão conseguir o que queriam, mas é assim a vida: feita de vitórias mas também de algumas derrotas e empates rumo a esse grande troféu que é a felicidade. Continuem a ler e a cultivar-se, mas tenham sempre presente que nem sempre os finais são felizes…

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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