Crítica: Mama – Carla Vieira

Esta crónica não contém spoilers: podem ler à vontade.

No Domingo fui-me aventurar no cinema e fui ver o filme “Mama”. É um filme de terror, e ultimamente não têm havido muitos que me despertem a atenção porque pura e simplesmente não são bons o suficiente para me cativarem.

Para mim vejo as coisas desta maneira: temos as pessoas que vêem filmes de terror e dizem que não se assustam, e temos as pessoas que nem sequer gostam de ver filmes de terror porque se assustam muito facilmente. Eu? Eu gosto de ver filmes de terror, e na verdade não me assusto com muita facilidade… Mas eu quero ser assustada. Eu quero sentir medo e sentir a minha respiração a ficar mais rápida, quero saltar na cadeira quando algo acontece no ecrã. Não vou ver filmes de terror para depois me gabar de que ai ui não assusta nada. Eu quero ir para casa e não conseguir dormir. Isso sim, devia ser o objectivo de todos os directores de filmes de terror.

Mas desejos à parte, vamos então falar do filme Mama. O filme foi inspirado por esta soberba curta do mesmo nome, “Mamá”.

Primeiro, parabéns ao senhor Guillermo del Toro por ter visto para além da curta. Ela só por si está excelente, pelo menos aos meus olhos. Dois minutos e quarenta e cinco, uma só cena, e uma catrazonada de emoções à flor da pele. O filme adaptou muito bem a cena da curta para a longa-metragem, embora estejamos a falar de três minutos entre cento e tal… Mas o resto é história.

Começamos com a Lily e a Victoria, as meninas da curta. São jovenzinhas e, como visto no trailer, são encontradas numa cabana aparentemente abandonadas e sozinhas durante cinco anos. A cabana é o local mais arrepiante da história, e é-lhe feito algum proveito, mas não tanto quanto poderia ter sido feito. Há portanto o sabor da cabana ter sido um pouco utilizada menos do que o que devia. A história em si é passada numa casa moderna com pequenos toques de “antiquice” tais como escadas grandes com corrimão em madeira e móveis brancos. As meninas vão morar com o tio e a namorada do tio, e têm visitas frequentes de um terapeuta. Algo interessante é a Victoria, a menina mais velha, adaptar-se bem ao meio civilizado mas a Lily continua a andar utilizando os quatro membros e sem muita capacidade (ou vontade) de falar. As únicas falas da menina são “Victoria. Mama. Come.”, enquanto que a Victoria reaprende a falar rapidamente e comunica com facilidade.

A “Mama” é o centro da história, aquilo pelo qual toda a gente quer ver o filme. Quem é a “Mama”? O que é que ela quer? As meninas passam os cinco anos a desenhar nas paredes da cabana, um hábito que fica com elas quando são transportadas para o seu quarto na casa do tio. Os desenhos são acompanhados por uma cantilena murmurada em uníssono e está relacionada com a “Mama”, embora o filme não explique em que sentido. A presença desta figura maternal é também ilustrada por traças, um simbolismo não explicado até o final do filme.

Passamos muito tempo do filme a tentar perceber quem é a “Mama”, mas a sua aparição começa aos cinco minutos do filme, uma coisa com membros desproporcionais; a sua figura torna-se nítida mais para o meio do filme, e com ela um horror primário de ver algo morto e desfeito mas ainda assim material. O efeito é ligeiramente arruinado por ela – a Mama – se enfiar debaixo do chão e só deixar os cabelos a passear pela casa, o que lhe dá o aspecto de uma esfregona intencional. Não sei se foi intencional deixar este alívio cómico no filme mas acreditem que não há tempo para rir da situação; ela rapidamente aparece e aflige aqueles com o coração mais apertadinho do medo.

O final é algo surpreendente, mas que no meu caso deixou algum saber a insosso. Gostei do que vi, mas foi demasiado não-horror e destruiu algum do temor que a audiência sentirá pela visão da Mama. Poderia ter acabado de várias maneiras, mas acho que esta escolha – se bem que intencionada e percebida – não foi a melhor escolha para acabar em boa nota um filme de terror.

Ainda assim é um filme que vale a pena ir ver e desfrutar; nada acima da média, mas bom o suficiente para quem gostar do género.

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente