“Cuidado com a austeridade” – Nuno Araújo

O orçamento de estado ainda não foi sequer votado e já dói. Enquanto a maioria PSD-CDS vai aprovar esse orçamento “fora-da-lei”, diz-se por aí que Portugal terá de reforçar a austeridade no próximo ano. O FMI colocou Portugal com a “corda na garganta”: o memorando é para cumprir.

Até o FMI o diz: “cuidado com a austeridade!”. Parece que o FMI agora, sobre a voz do Sr. Selassie, não acredita já na receita que ele próprio criou! Uma receita que apenas tratou de retirar algumas “jóias da coroa” a Portugal, como a EDP, ou a TAP (já em vias de privatizar).

Portanto, crescimento precisa-se! Como? Não com este governo, presumo eu. Aliás, presume o FMI. Só assim se percebe a seguinte lógica: Portugal falha na execução orçamental, a Comissão Europeia pede mais um ano para o ajustamento do défice português e o FMI aceita.

Alguém me explica a razão de Passos Coelho não ter pedido mais tempo? Ou será que Durão Barroso fez um favor a Portugal, pedindo mais tempo para cumprir o défice?

Portugal tinha um défice que rondava os oito pontos percentuais na altura em que pediu assistência financeira ao FMI. Hoje, volvido pouco mais de ano e meio, e milhares de milhões de euros cortados em despesa social, o governo não consegue fazer baixar o défice abaixo de uns confrangedores 6,8%.

Alguém acredita que este governo conseguirá chegar a 2015 (pressupondo que não cai até essa data) e coloque o défice em somente 1,9%? É de rir à gargalhada.

Acabe-se com este governo, antes que este governo acabe com o país.

Notas:

Coreia do Norte: A Human Rights para a Coreia do Norte (HRNK) divulgou recentemente um duro mas elucidativo relatório (aceda ao mesmo em http://hrnk.org/uploads/pdfs/HRNK%20CAMP%2022%20REPORT%20FINAL%20(1).pdf ) em que afirma que o maior campo de concentração do regime maoísta ainda funciona, afinal. Tinha sido dado como encerrado, mas recentes imagens captadas por satélite deram a entender à ONG (tipo de Organização Não-Governamental) que isso não é verdade. O chamado “Campo 22” divide-se em duas partes, situado em Hoeryong, perto da China a norte, e tem uma linha férrea que liga esses dois pontos (Chungbong-dong e Haengyong-ni). Segundo o relatório, “as colheitas agrícolas prosseguem, assim como a produção de carvão, fazendo com que não seja ainda claro que o campo tenha sido encerrado e que as autoridades da Coreia do Norte tenham lentamente transferido pequenas seções de prisioneiros para fora do Campo, substituindo-as por forças de trabalho regulares de outros locais”. Ainda de acordo com o mesmo relatório, nesse campo de concentração estão encarcerados mais de 50 mil prisioneiros, muitos deles políticos, fortemente vigiados por mil guardas, que fazem parte do exército mundial com mais homens alistados: o da Coreia do Norte. Para além disso, o relatório refere que muitos dos prisioneiros são crianças e que servem ocasionalmente para experiências diversas do foro médico e militar

A China está a menos de duas semanas de vivenciar uma mudança histórica das suas lideranças. O congresso do Partido Comunista Chinês inicia-se em Novembro, e as ruas de Pequim estão decoradas com vários retratos de Mao-Tse Tung, antigo líder chinês da Grande Marcha. Ao que parece, esse estranho facto aos olhos de um ocidental tem a ver com o facto de Mao lembrar, a gentes graúdas e miúdas, tempos em que a China era irredutível nas suas ambições territoriais e políticas, e em que os políticos não eram milionários. Sinais de tempos em que a China não se emancipa face ao Japão na contenda dos rochedos de Senkaku, e em que são cada vez mais os políticos abastados na China a revoltar o silencioso povo.

Guiné-Bissau: A actual liderança militar golpista na Guiné-Bissau acusou a CPLP e as autoridades portuguesas de quererem, com o ataque registado a 21 de Outubro em Bissau ao quartel de forças fiéis ao actual regime, devolverem o poder a Carlos Gomes Júnior, o legítimo vencedor das eleições presidenciais guineenses. Ora, quando sucedem casos de alegações deste tipo, é sintoma apenas de que, por vezes, as lideranças militares e/ou populistas necessitam de mostrar às massas, ou seja, à população, um inimigo. Dar-lhe nome e rosto é essencial: Portugal e CPLP são os “inimigos”. Por forma a legitimar esse golpe de estado na Guiné-Bissau, inconstitucional e inadmissível à luz da Democracia, o Conselho militar guineense que está no poder tenta lembrar o povo que o antigo país colonizador pode estar à espreita de nova intenta para tomar posse do território. A manipulação das massas e a propaganda falaciosa em torno de um suposto inimigo é a resposta. Sim, este conselho guineense, que está no poder, tenta assim desviar a atenção dos guineenses dos problemas internos, gravíssimos. Saúde? Educação? E as greves de profissionais das mais variadas áreas? A Guiné-Bissau tem estado paralisada desde Abril deste ano! Quem semeia ventos, colhe tempestades, sempre ouvi dizer. Infelizmente, o povo guineense é quem acaba sempre por colher tempestades. Mais: O actual governo guineense não está em condições de amenizar o clima de medo e intimidação reinante no país. O executivo de Bissau não conseguirá investigar os mais recentes acontecimentos violentos, pois as estruturas militares estão divididas internamente, e mais: está a braços com um possível novo golpe de estado, a todo o momento. O medo apoderou-se da sociedade civil. Os professores estão em greve há já um mês, médicos e enfermeiros também paralisam com frequência, enquanto que os profissionais do Ministério da Justiça seguem o mesmo caminho. Com todos estes episódios de greve, o aparelho estatal guineense bloqueia, e o país perde dinheiro e tempo, tão essenciais que são a esta nação lusófona.



Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana