Da Ocidental Praia Lusitana – Grécia – Entre a Espada e a Parede

Entre a espada e a parede. É assim que está a União Europeia (UE) liderada pela entidade Merkozy”, perante o impasse do acordo grego sobre mais austeridade. Então mas não será antes a Grécia que está “aflita”? Não, senhoras e senhores. 

Passo a explicar, passo a passo. Ponto prévio: a crise é eterna (exactamente como disse José Sócrates). Portanto, qualquer país que contraia empréstimos, teoricamente vai pagando aos seus credores os montantes em dívida, e novamente se endivida, porque é um ciclo contínuo (os bancos vendem dinheiro, porque esse é o seu negócio, e, sem esse negócio, não há lucros) e faz parte da arquitectura do sistema financeiro internacional. Só que a crise do banco americano Lehman Brothers fez lembrar que há calotes, logo quem pede crédito e diz que paga, nem sempre cumpre; mais, até há quem diga que tem dinheiro e depois o esbanje (sabe-se lá onde…), após tê-lo escondido em “Off-shores”.  Moral da história: não há confiança que valha no que toca a emprestar dinheiro.

E eis que chegámos à crise grega. Pergunta: porque é que um país, membro da rica zona europeia com a divisa Euro (terceira mais valiosa do mundo), tem de pedir resgate financeiro ao Fundo Monetário Internacional (FMI)? Resposta: porque se perdeu a confiança, dado que os orçamentos gregos durante dez anos encobriram buracos financeiros de grande dimensão. É aqui que reside a questão da crise, nesta desconfiança generalizada, onde os bancos deixaram de confiar nos Estados. A Grécia fez calote durante anos, e pediu ajuda ao FMI; a Irlanda viu uma explosão nos seus sectores imobiliário e bancário; e Portugal? Que fez Portugal para ter de precisar de um empréstimo de 78 mil milhões de euros? Talvez não tenha chegado a fazer nada de especial…

O livro “ Relatório da CIA – Como será o mundo em 2020?” (de Alexandre Adler, ed. Bizâncio, 2006) já abordava a grande possibilidade de se verem diversos serviços públicos, como energia, água e outros, serem tomados por empresas privadas, mas não referia em que contexto isso se iria concretizar, nem quando. Pois bem, estamos em 2012, a EDP já é chinesa, a TAP quando for privatizada poderá ser alemã, e a REN até poderá vir a ser pertença de um califado árabe à escolha de Passos Coelho. Mas, interroguemo-nos: terá isto tudo um objectivo específico, para alguém em particular? Parece-me que sim. A China já é a segunda maior economia do mundo, e tem uma moeda fraquíssima. Vende tudo a preços baixos, sendo a verdadeira fábrica do mundo (à custa de muita mão-de-obra explorada e de um sistema político de partido único e autoritário).

Como conseguirão a UE e os Estados Unidos da América (EUA) voltar aos tempos auspícios do crescimento e da prosperidade financeira? Ideia dos actuais líderes políticos da UE e dos EUA: equipararem-se à China. Mas…como? Cortando conquistas sociais dos trabalhadores (os tais privilégios, como dizem os senhores do capital), cortando nos apoios sociais aos que mais precisam, cessando serviços assegurados pelo estado a preços acessíveis e justos…

A Grécia (e sempre a Grécia) aparentemente rejeita, pela voz dos seus mais de 700 mil funcionários públicos e outros tantos trabalhadores sindicalizados (em cerca de 9 milhões de habitantes, é muito), equiparar-se à China. Os gregos que fazem 48 horas de greve geral querem direitos para os trabalhadores, e não escravidão; não querem redução de 20% no seu salário mínimo; querem transportes públicos a preços acessíveis; querem tudo o que um cidadão alemão quer e pode ter, sem a comum dificuldade de um cidadão grego. E já agora, se os gregos são “preguiçosos” (como dizem que os portugueses são) é porque as quotas de produção dos países periféricos (definidas pela UE) na maioria dos sectores são muito mais baixas do que as alemãs. 

Posto isto, a Grécia sabe que não tem quase nada a perder. A UE não se arriscará a “dar de barato” a saída da Grécia da zona Euro, porque terá muito, mas mesmo muito, a perder, arrastando Portugal, Irlanda, Itália e Espanha…entre outros mais. Logo, a Grécia “esticará a corda” até mais não poder, porque tem eleições em Abril, e quem “saltar fora” (como “saltou” a extrema direita, para se juntar à esquerda que nem entrou no governo) deste acordo “estrangulador” para o povo grego, só sairá a ganhar. O povo, esse, sairá sempre a perder…

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana