Declaração de amor a Lisboa – Bruno Neves

A magia tem muitos protagonistas, diversas formas e por vezes está onde menos esperamos. Independentemente da idade que tiver, se tiver diante de si um bom mágico é quase certo que no final do seu truque vai ficar de boca aberta e a pensar como raio fez ele aquilo. Sejam bem-vindos ao “Desnecessariamente Complicado” desta semana.

Para além da magia tradicional existem outras magias. Por exemplo, alguns objectos estão rodeados de uma aura mágica inexplicável. A primeira vez que uma criança vislumbra o ecrã de uma televisão é um momento absolutamente mágico. Por mais pequeno que seja é mais que certo que o petiz vai ficar maravilhado com as cores, com o movimento e com o som que a mesma expele. Existem também momentos mágicos: um pôr-do-sol à beira-mar, as primeiras palavras de um filho, um abraço ou um beijo daquela pessoa especial, um concerto do cantor/banda favorito ou quem sabe assistir no estádio a um jogo decisivo do seu clube de futebol. Mas esta semana venho falar-vos de um outro tipo de magia: da magia de uma cidade.

Desde sempre que oiço falar da magia que a cidade de Lisboa possui, contudo nunca a tinha sentido verdadeiramente. Sim, é a capital do nosso país e mais que não seja por isso é especial. Mas sempre ouvi dizer que ela tinha algo mais, algo de inexplicável, e que assim que nos entregássemos ela nos conquistaria de imediato. Os quase cinquenta quilómetros que separam a minha habitação da capital levaram a que durante muitos anos ela fosse para mim apenas o sítio onde por vezes passeava e/ou fazia compras. Nunca a conheci sequer totalmente (aliás, ainda hoje não a conheço totalmente).

Mas tudo mudou quando há cinco anos atrás deixei o Ensino Secundário e passei a frequentar o Ensino Superior. Mantive a minha habitação a cinquenta quilómetros de distância, contudo as viagens diárias “obrigaram-me” a conhecer muito melhor a cidade. Com o traje académico veio muita responsabilidade, mas também uma ligação muito maior e mais forte a Lisboa. Estudante universitário que se preze desenvolve uma relação especial com a cidade que o acolhe. As viagens a pé, de autocarro, de metro ou de comboio, as actividades de praxe nos seus jardins (quer como caloiro, quer agora como trajado), as saídas à noite pelos seus bares e discotecas, os passeios nas tardes solarengas ou nas quentes noites de verão. Tudo ganha uma magia inexplicável. É como se estivéssemos “ligados” aquela cidade. Mesmo que estejamos no meio de uma autêntica multidão é como se estivéssemos sozinhos com a cidade, num diálogo sem palavras e apenas composto por silêncios, sorrisos e lágrimas. É como se parte dela fosse nossa.

O facto de ainda não a conhecer totalmente é fantástico porque torna cada viagem uma verdadeira descoberta. Cada rua, cada viela, cada canto e recanto ganham uma magia incontável. Consigo viver verdadeiras aventuras sem sair do mesmo lugar, tal é o tamanho da minha imaginação e a velocidade a que a minha mente viaja. O facto de saber que ainda existe muito mais por descobrir só aumenta aquilo que sinto pela cidade que tão bem me acolheu.

Fruto da correria que é a nossa vida e dos mil e um compromissos e afazeres que temos diariamente numa primeira fase este sentimento é inconsciente. Apenas quando paramos um pouco para observar o caminho que percorremos é que nos apercebemos desta magia. Mas quando este momento chega tudo muda: o sol e a lua brilham com mais intensidade, aquela noitada com os amigos tornou-se ainda mais especial só pelo facto de ter ocorrido nas ruas e vielas de Lisboa, aquela actividade de praxe não seria a mesma se não acontecesse num dos inúmeros jardins da capital.

Tenho pena daqueles que apenas se apercebem desta magia depois do fim desta fase da sua vida porque tal facto é sinal de que podiam ter disfrutado muito mais dos momentos e vivências do passado. Mas mais vale tarde do que nunca, como tal se é este o seu caso olhe em frente e pense bem nos maravilhosos momentos que ainda vai viver na “sua” Lisboa.

Como diz a música “Lisboa” interpretada pelos Tara Perdida e pelo Tim: “Lisboa, és só tu e eu / Confesso-me a ti / Ó cidade de noite encantada / Lembras-me a vontade / Hoje eu vou ficar”. Esta música é, na minha modesta opinião, uma verdadeira declaração de amor por Lisboa. Pode ser a capital de todos nós, mas acreditem que é muito mais de uns do que de outros. Eu próprio duvidava da sua magia, mas hoje considero-me rendido aos seus encantos.

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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