Desamparem-me a loja – Joana Camacho

Porque é que as pessoas dizem que se vão embora e depois nunca vão? Acontece em todo o lado. É quando encontramos conhecidos na rua, é nas redes sociais, é em conversas instantâneas, ao telemóvel…

– Bem, se calhar o melhor é eu ir andando…

Podem parar com isso. Todos sabemos que a verdade é que nunca “vão andando”. Ainda ontem me cruzei com uma destas criaturas que insiste em dizer que se vai embora, mas que – no entanto – não fecha a matraca até nos contar a vida toda de trás para a frente e da frente para trás. Repetia vezes e vezes sem conta a típica frase do “bem, acho que vou andando”, quase como se estivesse a tentar convencer-se a ela própria de que tinha de se ir embora. Às vezes penso… será que esta confusão é oriunda de uma briga entre dois neurónios com opiniões contrárias? Se calhar existe um neurónio responsável – o totó que anda sempre com uma agenda atrás e está sempre lembrado dos compromissos – e outro irresponsável – que é a favor da procrastinação e que considera aquela conversa o expoente máximo de interesse.

Tenho de voltar a referir as noivas em dia de matrimónio. Pensem comigo: será que elas se atrasam porque encontram sempre alguém pelo caminho que insiste em dizer que se vai embora e depois nunca vai?

E depois temos as tão célebres despedidas telefónicas entre casais:

– Ai, desliga tu.

– Não, não… desliga tu.

– Mas ontem fui eu, hoje tens que ser tu.

– Ontem desliguei eu… por isso desliga tu!

– Não desligo… desliga tu.

– Desliga lá!

– Desligamos ao mesmo tempo?

– Está bem. Um… dois… três!

– Oh! Não desligaste.

– Tu também não! Hihihi.

Alguém que dê um tabefe nestes dois indivíduos. Com particular violência e agressividade, por favor. E, já agora, digam-lhes que foi da minha parte, e que mando os meus cumprimentos à família.

Há, contudo, algumas pessoas que dizem que se vão embora, e realmente vão. São raros os casos, mas há alguns registos históricos de tais acontecimentos. Vejamos, por exemplo, o caso de Dias Ferreira. Poucas são as pessoas que não ficaram a tomar conhecimento de que Dias Ferreira não gosta de Paulo Garcia, o moderador do Dia Seguinte, programa da SIC Notícias. E porquê? Porque Dias Ferreira fez beicinho e decidiu que não queria olhar para o moderador, porque não gostava dele. Ora, tal e qual crianças do infantário, Paulinho foi amuar para o canto da sala, e disse que também não gostava do Diazinho porque ele era feio. O menino Dias não gostou, e disse que ele e Paulinho a partir daquele momento nunca mais poderiam brincar aos cowboys juntos. E assim foi. Ora aqui está um exemplo que todos deveríamos seguir. Quando Dias Ferreira diz que não gosta de Paulo Garcia, não olha para ele, e que se vai embora: vai mesmo! Portanto aprendam com Dias Ferreira.

Agora deixo-vos, na esperança de que me desamparem a loja de cada vez que afirmam que se vão embora. E, sim: vou-me mesmo embora. Não porque não gosto de vocês, mas porque já se faz tarde e amanhã é dia de ir à missa. (Não é?)

Caras pessoas que me leem: caso, por alguma razão, tencionem subornar a autora deste texto, permitam-me que vos deixe uma sugestão… chocolates. Montes e montes deles.

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A parva lá de casa