“Descrise” – Pedro Alves

No dia seguinte ao dia em que escrevi a anterior crónica, na qual sugeri que o país não iria sair da crise, mas sim entrar, talvess, numa descrise, veio o nosso Primeiro Ministro comunicar ao País que o próximo ano será de recuperação.
Não querendo fazer uma análise meramente dilatória, tentei encontrar dados e previsões que pudessem sustentar esta tese da recuperação. O INE diz que a contração não está a ser tão profunda quanto se esperava de facto, contudo também as exportações que têm sido a bóia de salvação do país nestes tempos difíceis também não tem crescido actualmente quanto se esperava, portanto como consequência, menos receita. Se tudo estivesse bem, o Dr Passos Coelho não teria necessidade de começar a preparar a nação para o que aí vêm no orçamento de Estado para o ano seguinte, sejam os cortes mais que anunciados na saúde ou o subsídio de férias que será invitávelmente cortado a todos os trabalhadores.
Isto só poderá ser visto como um aprofundar da crise, cada vez mais pessoas estão desempregadas, os jovens qualificados, sem oportunidades neste país vão embora à procura de emprego, aumentando as dificuldades da segurança social em cumprir os seus deveres para com os reformados e pensionistas, quem fica está submerso num mar de impostos que não lhes permite encarar o dia seguinte com optimismo quanto mais o próximo ano. E, por fim, percebe-se o motivo que tem demorado a Europa a reagir e a resolver os problemas, e esse motivo prende-se com a velha questão de economia. Neste momento não é conveniente para a França e Alemanha resolverem o problema. Esta minha afirmação pode parecer estranha mas repare-se, aquando do resgate da Grécia e de Portugal, a Alemnha e a França que emprestaram dinheiro emprestaram-no emitindo divida a um juro baixo penso que perto dos 2% e emprestaram-nos a cerca e 5%, ora como é lógico estão a ganhar com o negócio. E qual o meu espanto quando vi esta semana, tal como já tinha acontecido com a Alemanha, que a França emitiu divida a juros negativos, significa que pedem emprestado um determinado valor, e que quem empresta ainda paga para lhes emprestar. Como é possível acreditar que eles estão realmente empenhados em resolver a aituação se neste momento estão a ganhar com tudo isto? Não acredito, acho que enquanto não resolvermos os nossos problemas não nos vale de muito contar com estrangeiros, e vamos entretanto vivendo nesta “Descrise” que tudo sufoca.



Crónica de Pedro Alves
O tradutor do Estado