Democracia: valores de Abril e os partidos – João Cerveira

Muito se fala nos valores de Abril e nos partidos do actual sistema político. E todos eles reclamam os valores da democracia, da representação do povo. Mas já não é bem assim, se pensarmos  bem.

É óbvio que eles continuam a ser eleitos pelo povo – pelos poucos eleitores que ainda se dão ao trabalho de ir votar – e, assim, segundo a Lei, representam legitimamente o povo. Mas certo é também que, mal são eleitos, o que disseram na campanha e as suas próprias ideias desaparecem, subjugando-se às ideias dos lideres partidários, mesmo que estes mudem a meio da legislatura e nem tenham sido submetidos ao sufrágio popular.

Outro facto é o de serem eleitos – estou a falar dos deputados – por círculos distritais, mas assim que chegam à Assembleia da República passam a ser “representantes da nação” e rara ou nenhuma vez põem os interesses do distrito que os elegeu em primeiro lugar, antes da vontade do líder partidário.

E não tenhamos ilusões, isto acontece em todos os partidos.

Em suma, estamos cada vez mais europeus nestes pequenos factores que deturpam a verdadeira democracia. Falo da União Europeia. Em Bruxelas, o Presidente da União e o Presidente da Comissão não são sujeitos a sufrágio, são escolhidos numa votação “fantoche” dos chefes de Estado dos países membros, pois já está tudo combinado antes da votação. Aqui, são os lideres partidários, eleitos entre os seus pares, que “ditam as leis”.


Crónica de João Cerveira
Diz que…