Diz que … ganha pouco ?

Esta semana foi marcada por duas factos, no mínimo, estranhos: Pedro Passos Coelho diz em entrevista ao Sol que ganha pouco mas não se queixa; Vítor Gaspar diz ao Ministro das Finanças alemão que às tantas até somos capazes de precisar de reajustar o plano de ajuda (e teve o azar de uma câmara de televisão ter captado tudo).

Não tendo aprendido com o caso do Presidente da República, Pedro Passos Coelho disse em entrevista ao Sol que ganha pouco. Não sei em que contexto porque – confesso – não li a entrevista. Mas nos meus trinta anos de vida nunca me recordo de um Primeiro Ministro dizer (alguns provavelmente pensaram nisso mas não disseram) que ganhava pouco. E o mais caricato é que, segundo a capa do Sol, a expressão foi “não ganho bem mas não me ando a queixar”. Se isso não é queixar-se , o que é? Ora, Sr Primeiro Ministro, deixe de ser piegas (nota explicativa: um dos significados de “piegas” é  “Que ou quem se prende ou se preocupa com pequenas coisas ou com coisas consideradas sem importância”) ! Uma função tão nobre como é a de liderar o seu País, salvá-lo da crise e retomar o caminho do crescimento económico, como diz repetidamente (talvez pense que por repetir muitas vezes o povo acredita) e está preocupado com coisas menores como o seu vencimento? Se assim fosse, teria sido melhor se tivesse ficado a gerir uma das empresas do seu amigo Ângelo Correia, a fazer descargas de águas residuais com níveis de enxofre superiores aos permitidos na lei por engano. Ao menos ganhava mais, não é?

A outra questão que vos trago é a prova de que aquele ditado popular “faz o que eu te digo, não faças o que eu faço” tem tanto de intemporal como de certeiro. O Governo leva o tempo todo a repetir que não vamos precisar de reajustamentos e/ou de outro pacote de ajuda, mas depois chega às reuniões dos Ministros das Finanças da União Europeia e, às escondidas, fala com o ministro alemão (porque toda a gente sabe que a “União Europeia” vai mudar de nome para “Alemanha e Associados”) e diz precisamente o contrário. Disse Vítor Gaspar ao ministro alemão que talvez seja necessário reajustar o plano. O ministro alemão explicou que estão preparados caso seja necessário e que o único obstáculo podia ser a opinião pública alemã. Mas como toda a gente sabe, os políticos estão-se nas tintas para a população (excepto em anos de eleições), por isso, não deve haver problema.