Diz que não tem emenda

Podem dizer que não gosto do Prof. Cavaco. Face ao que tenho escrito sobre ele, aceito a critica. Pessoalmente não tenho nada contra o Sr, mas como governante, titular de cargos públicos, é uma autêntica nódoa.
Recordemos 2 episódios que, face à gravidade, são difíceis de esquecer.
Junho de 1994 marca o aumento de 50% das portagens na Ponte 25 de Abril, determinada estrategicamente dias depois das eleições europeias. Começa o buzinão na ponte, que leva camiões e motards a fazer bloqueios no acesso à portagem em Almada, a que se juntaram toda a população. Dias Loureiro (o mesmo implicado no caso BPN) vai para local num heli da Força Aérea (naquela altura não se criticavam governantes que usavam aeronaves da FA para se deslocar em situações urgentes) para tomar conta da situação e dá ordem para ser usada a força nos manifestantes, enquanto Cavaco Silva diz que aquilo tinha sido orquestrado pelo Partido Comunista e extrema esquerda. Conclusão, o governo manda a policia investir sobre os militantes do PC – sim, porque não agem como se fosse uma manifestação espontânea, de desagrado pelas suas politicas, portanto para eles são organizações de esquerda que ali estão, não contribuintes -, tendo inclusivamente um cidadão ficado paraplégico, depois de ter sido atingido por um tiro da policia.
Já em 89, perante a chamada manifestação de policias, Cavaco Silva volta a dizer que comunistas, socialistas e extremistas são responsáveis por esta revolta das forças da autoridade. Convém lembrar que foi negada às forças de segurança os direitos à manifestação, como qualquer outro cidadão. O governo cavaquista manda policias dispersar policias e o espectáculo de veículos da PSP com canhões de água a dispersar colegas de uma manifestação ilegal, determinou que este episódio ficasse na história como “secos e molhados”, policia contra policia.
À parte destes episódios, que só por si mostram a insensibilidade de Cavaco, convém lembrar que os sucessivos governos cavaquistas receberam milhões e milhões de Bruxelas mas, ainda assim, o défice público subiu para o dobro e ainda deu para ex-governantes criarem negócios como o BPN, com tudo o que hoje se veio a saber sobre essa instituição, para além dos agricultores que receberam para não produzir e pescadores que receberam para abater os seus barcos, tendo-se traduzido numa machadada violenta na agricultura e pescas nacionais.
Cavaco enquanto presidente disse colaborar sempre para o melhor do país. Vimos noutros presidentes vetos políticos em situações delicadas, como o limite ao direito de imprensa, por exemplo, demonstrando que a figura do presidente não é apenas decorativa. No caso de Cavaco, não é decorativa mas é antes destrutiva. Cavaco não só se limita a promulgar tudo o que lhe é enviado (aprovando medidas muito agravadas em termos de austeridade, em relação ao que ele mesmo proferiu, na legislatura anterior, como o “limite para a austeridade”), como ainda faz declarações incendiárias – como as de 89 e 94 – para lançar a divisão na opinião pública. Esta última, a da falta de lealdade institucional de Sócrates, verdadeira ou falsa, só vem provar que o Prof. Cavaco não sabe ser estadista. Faz lembrar aqueles miúdos no secundário que julgam vingar-se e pensam “no ano passado não me convidaste para a tua festa de aniversário, este ano vou vingar-me”.




Crónica de João Cerveira
Diz que…