Diz que: Sobre o incêndio no Algarve – João Cerveira

Há dias falava com colegas e amigos a respeito do grande incêndio no Algarve, que começou na quarta feira em Catraias – Tavira que achava muito estranho o facto de, com tantos homens e meios, não conseguirem sequer reduzir a extensão do mesmo. Avancei até, na altura, que, na minha opinião, ou alguém andava a (re) acender de um lado enquanto os bombeiros apagavam do outro, ou estavam mal coordenados.

A primeira hipótese não está posta de lado, pois a PJ anda a investigar mão criminosa. E a segunda hipótese, por tudo o que se sabe hoje, ainda menos razões temos para as excluir.
Sabe-se que muita gente fala de cabeça quente e nem sempre baseia a sua argumentação. Mas agora, com o fogo na fase de rescaldo, continuam as criticas e vindas mesmo de alguns bombeiros, citados pelos populares. O dispositivo de homens e meios era enorme comparado com o de outros incêndios (pense-se, por exemplo, dos incêndios da Madeira) e só 2 dias depois de ele começar é que conseguiram reduzir as frentes de fogo, tendo, no entanto, em muitas situações, as habitações sido defendidas pelos próprios populares, sem existência de bombeiros por perto.

Atenção que eu não critico bombeiros. Todos vimos como eles deram tudo por tudo e as imagens dos bombeiros completamente exaustos comovem e emocionam qualquer um. A entrega dos “soldados da paz” foi e continua a ser total e, a todos os níveis fantástica. No entanto, não se pode, por tudo o que vi e li, dizer o mesmo da estrutura de coordenação da Autoridade Nacional de Protecção Civil. Andaram muito tempo a “navegar à bolina”. A maior prova disso é que hoje a RTP noticiou que o incêndio foi dominado, em grande medida, porque o Comandante que, passo a redundância, tomou o comando ontem de manhã, reconheceu a necessidade de mudar de estratégia e moveu vários meios para a zona de São Brás de Alportel, concentrando homens, aeronaves e máquinas de rastro do Exército naquele ponto, mesmo sob as criticas do autarca de Tavira. Isto prova que, quando se “ataca” o problema, tende normalmente a dar resultado.
Não temos – nem provavelmente vamos ter – dados concretos sobre o que se passou. Mas usando um ditame popular que, curiosamente, tem a ver com fogo, “onde há fumo, há fogo”. Quero com isto dizer, com tanta gente a queixar-se de descoordenação, estranho seria que alguém da  Autoridade Nacional de Protecção Civil viesse dizer que não existiu qualquer descoordenação.

 


Crónica de João Cerveira
Diz que…