Dores Humanas – A poesia da compreensão

Hoje escrevo sob a forma de poesia, três dores humanas que na minha profissão, como na vida, me têm feito reflectir bastante… Reflectir no sentido de poder compreender.
Compreender, nem sempre permite a visão positiva por si só, pois a dor humana que é real merece e necessita de ser empaticamente percebida…
Por um momento, é como se pudesse olhar o Outro, aqui, nestes três poemas, do seu ponto de vista, do meu ( porque em poesia é sempre assim…), e daqueles que os amam e acompanham, ou deles se desencontram na vida…
Falo pois das trevas que também existem nas vidas humanas.
Deixo no entanto a certeza, de que é no meio das noites mais escuras que podemos ver as estrelas mais brilhantes, e nas trevas é onde podemos ver a Luz.
Aquele abraço fraterno, aquela mão que se dá, que se estende mesmo a quem se não conhece, ou sobretudo por isso mesmo, pode significar muito para alguém…
Mais ainda para nós… Sentindo que pertencemos a esta enorme família humana… E que nas mais belas rosas existem espinhos… Que a dor existe, e muitas vezes é na sua compreensão e na forma como com ela podemos, ou não, lidar, que existe a verdadeira regeneração…do Outro, do Eu…
Falo portanto de três grandes dores humanas: A dor do desamor, a dor da demência, a dor da loucura…
Do ponto de vista de quem sente, de quem lê, de quem escreve, por uns minutos…
Para uma profunda reflexão, que compreenda mas não desista nunca, nem do Eu, nem do Outro.
Bem hajam por estarem desse lado, tenham uma semana de plena harmonia e compreensão do Eu, do Outro e do Mundo…

DORES HUMANAS – A Poesia da Compreensão

“Desencontro”

Por onde passa o riso e o abraço?…
Dessa voz outrora tua, eterno o abraço,
Onde se perdia o corpo, num suspiro?…

Nada sei, não te encontro, nem procuro…
Não encontro esse momento que era o Hoje,
nem vejo o teu olhar nessa tormenta…

Olho-te num segundo…
Nada vejo…
Não sei se te deixei,
se te desejo…

Nada mais encontro nesse laço.
O riso fosco de um amanhã,
que já não chega…
Do Ontem, minha alma nada deseja…

“Dor do Tempo que é”

Da Luz que ali procuro,
nada se vê…
Levou-a a velhice e a doença…

Do tempo, nada lembro…
Nada perdura…
E por isso nada sinto, que amargura…

Quisera eu outrora, tanto esquecer…
E agora que a doença nada lembra…
Quem dera poder sentir,
poder viver…

Passamos uma vida de memórias…
E o tempo de repente leva-as de nós…
O tempo já não é, e nada foi…
Lembro o rosto de quem fui, e nada sou…

“Loucura insana”

Um dia olhei para ti, vi-te sorrir…
A loucura de uma alma devastada…
Sorrias sempre, por tudo, ou por nada…

Uma mente bipartida, o vão mosaico…
Era do teu Eu a paz que não sentia…
A dor da insanidade, melancolia…

Um riso perturbado,
Um choro efémero…
Alienação do mundo e do destino…
Como ajudar-te posso, se não te leio?…

Escuto atenta a loucura e o vazio…
Procuro nos livros perceber o que sentiu…
E no doce carinho de quem cuida,
Procuro somente ver quem já partiu…

Por Lúcia Reixa Silva, 5 de Setembro de 2016