Seguindo a bitola das últimas edições nas quais a SEGA acabou sempre por ser mencionada, hoje este espaço é dedicado à última consola da outrora gigante japonesa. Essa, a Dreamcast, com as suas inovações técnicas e o seu comando aerodinâmico marcou o fim de uma era – o período da indústria em que a SEGA mordia os calcanhares aos outros tubarões como a Nintendo ou a Sony.
Lançada em 1998 no Japão e no resto do mundo no ano seguinte, a Dreamcast iniciou o ciclo de vida da convencionada sexta geração de consolas de videojogo – pela primeira vez haviam 128 bits prontos a ser explorados pelos produtores. Devido a jogadas de marketing arrojadas – nomeadamente o epíteto de primeira consola da nova era – tornou-se um sucesso comercial, a prazo. Quando a Sony anunciou que havia um bichinho chamado Playstation 2 prestes a nascer as vendas estagnaram. Quando o bichinho viu a luz do sol, em 2000, ergueu-se a penumbra da noite para o Sonic & Co..
Não é que fosse o Sonic o grande porta-estandarte de pioneirismo da Dreamcast. Também foi, claro, mas esta foi a geração de jogos como Crazy Taxi, Ready 2 Rumble, SoulCalibur, Virtua Tennis, Power Stone ou Jet Set Radio. Sem esquecer as aclamadas sequelas Rayman 2: The Great Escape, Resident Evil Code: Veronica, ou Dead or Alive 2. E claro, o ambicioso jogo da temporada, apelidado de mais caro da indústria até à data, Shenmue. Eis dez títulos que marcaram a diferença através da Dreamcast.
Mas desengane-se o leitor distraído: não foi só através de software que o 5º lançamento de hardware da SEGA inovou. Pela primeira vez na história das consolas a ligação à internet tornava-se um perk dos utilizadores: um modem interno, devidamente instalado e pronto a carburar co-op ou versus online gaming, perdão zero pelo inglês, avançava a indústria em direcção ao modelo social e multiplayer que hoje é central tanto na produção como na recepção dos videojogos. A Dreamcast foi também a primeira consola a facultar a possibilidade de jogos em HD (480p) através do seu adaptador VGA. Mais a mais, também o controlador era novidade. Não só estava perto do design de uma nave espacial como as suas funções justamente caíam nessa designação. Ou seja, a ranhura que estava ao meio que inevitavelmente levantava a pergunta “para que é isto” com desdém no sobrolho servia o propósito de diferentes acessórios vendidos em separado. Um deles, por exemplo, gravava o progresso do jogo. Outro, servia como mostrador de elementos do jogo em questão para o jogador – mapas, estatísticas, coisas assim. Havia ainda outro que fazia ambas as coisas. Curiosamente, quando vi pela primeira vez o comando da Wii U lembrei-me imediatamente do controlador da Dreamcast como se me lembrasse do Neandertal do Homo Sapiens.
É sempre bom lembrar a evolução como um princípio universal da matéria. Assim se pensa hoje, pelo menos. Pena a queda abrupta da SEGA no mercado. Talvez um dia se soerga como um gigante. Até lá sobrevive como uma distribuidora relativamente prolífera. Aguardemos os próximos capítulos.
L2R2 X-Δ aqui para vocês!
Curiosidade X-Δ: sabiam que o logo da Dreamcast mudava a cor consoante a região? (Japão, PAL, E.U.A.)
Excelente lembrança Pedro.
Não deve ser por acaso que escreveu esta crónica uma semana depois de ter feito uma crónica sobre o Crazy Taxi. Curiosamente eu tenho orgulhosamente a minha DreamCast a funcionar, nunca me rendi a outra.
Além do Crazy Taxi guardo o Sega Bass Fishing e outros enormes títulos que não me cansam.
Na altura do fim da DreamCast eu trabalhava na área (com várias editoras de software), lembro-me de ir a uma feira de informática em Barcelona, e havia lá rumores que a DreamCast II estaria pronta, com gráfica mais potente, e falava-se numa “nova interacção com os comandos”, não esquecer que a DreamCast era pioneira com comandos interactivos (sim eu ainda tenho duas canas de pesca, duas maracas, e um tapete para um jogo de dança – lol).
Na altura disse-se que a pressão sobre a Sega para acabar com a produção de consolas era tanta que a Sony e Microsoft ameaçaram a Sega que não permitiriam a compatibilidade de software Sega com as suas consolas. E não podemos esquecer que a Sega era e é uma editora.
Curioso ponto a somar, recentemente a Panasonic anunciou o lançamento de uma consola sua, projecto que meteu na gaveta “por causa da crise”, mas ganhou alguns contratos para fabricar componentes para as grandes marcas.
Muito obrigado pelo seu comentário tão rico Miguel!
Pareceu-me o timing correcto para escrever sobre a Dreamcast; era e é uma consola com um charme característico.
Os conhecimentos de alguém que está (ou esteve) no meio são sempre valorosos. Pontualmente já tinha conversado com amigos acerca de uma suposta Dreamcast II, mas, de facto, não tinha noção de que havia uma comunidade tão ávida da mesma e que o rumor era tão forte. Oxalá tivesse visto a luz do dia. Fiz uma pequena pesquisa e ao que parece a Sega continua, esporadicamente, a patentear novos controlos e componentes. Talvez ainda não tenham riscado essa ideia dos planos a longo prazo. Para já não há luz verde ou pelo menos anúncio oficial que o valha – seja de uma Dreamcast II ou de uma nova menina. Mas eu gostava que isso acontecesse, sem dúvida. Contudo, talvez se verificasse novamente uma incompatibilidade entre a Sega e as outras grandes empresas do ramo, como a Sony, Microsoft ou Nintendo. Ainda assim, acredito que se sentissem com capacidade de competir no mercado não iriam hesitar – para todos os efeitos o culto e a legião de fãs pela marca Sega é enorme, comparável talvez só à Nintendo (ou à Atari quiçá).
Quanto à consola da Panasonic, não fazia ideia que tal coisa havera sequer sido pensada algum dia! Mas, alegadamente, no passado até já lançaram consolas – tanto a solo como em parceria. Estamos sempre a aprender! 😀
Sega Bass Fishing, que tesouro.
Boas Pedro, obrigado pela sua resposta e pela consideração.
O mercado tecnológico (de resto como quase todos) tem enormes pressões e lobbys, que raramente põem em causa o interesse do consumidor.
Tanto a SEGA como a Panasonic (entre muitas outras) têm mais a ganhar em estar quietas, e continuar a ganhar contratos nas áreas deles (software e componentes respectivamente) do que agradar os consumidores.
Um exemplo muito recente desta teoria da conspiração é o facto de hoje estarmos a usar Blue Ray. Na altura havia duas grandes propostas em jogo Blue Ray – Sony vs HDDVD – Toshiba.
O resultado final era semelhante (senão idêntico)
O HD DVD muito mais barato, antes do fim do concurso a Toshiba retirou a candidatura. Hoje em dia a Toshiba fabrica a maior parte das drives Blue Ray…
Ora essa!
A única coisa que me ocorre dizer é que essa situação é digna de um LOL. Dos grandes. Naturalmente há interesses mútuos e movimentos de bastidores que o comum do mortal não faz nem ideia que se passam. Restando, muitas vezes, ter simplesmente na consciência que os há. A propósito disso fico curioso por saber que modelo irão usar as consolas da próxima geração. Sabe-se que a Wii U vai continuar a usar um modelo próprio da Nintendo; é de se supôr que a Sony continuará com Blu-ray; mas e a Microsoft onde fica na história? Que chegou a apoiar o HDDVD? Para não falar da Ouya ou das hipotéticas consolas da Valve e da Apple…