Em Maio cerejas ao borralho… – Aida Fernandes

Em Maio na colheita das cerejas o meu pai adorava brincar connosco e colocar as cerejas nas orelhas em forma de brinco!… Jóias vermelhas que bem nos ficavam!…tantas e tão bonitas que nos enchiam os olhos…e a boca! Que saudades do sabor destas cerejas! Á noite a ver televisão não resistia o olhar brilhante e aquela cor tão bela e era uma atras de outra!

Haverá mês mais lindo que o mês de Maio? Não creio! Eu nasci neste mês! No jardim, recordo o cheirinho a primavera… as rosas, as margaridas, os amores, tulipas, lírios, narcisos, ervilhas de cheiro, begónias, ranúnculos! Recordo também das flores de verão, as palmas, gladíolo, as zinias, as dálias. …Tantas outras que deliciavam as borboletas…as flores secas…as granjas que decoravam o quintal e dos chorões cor-de-rosa que encantavam tanta gente…lembro dos amores que secava dentro dos livros …No Outono lembro a tradicional flor do dia dos Santos, os crisântemos e as reclinas, ainda hoje estas flores para mim simbolizam este dia… No Inverno as flores eram mais escassas, mas não faltavam as japoneiras com as suas belas camélias… que sempre me irão marcar uma época de infância.

A verdade é que tudo isto me marcou, a cultura era transmitida de pais para filhos, de estação em estação. A minha memória conserva as histórias e passagens em cada uma delas, relembra a ideia de que todos os ditados populares antigos ainda hoje são uma realidade! …”Em maio comem-se as cerejas ao borralho”… teremos melhor dia para confirmar tal ditado! Os antigos tinham a sua sabedoria e embora não tivessem os meios que hoje temos, sabiam de tudo um pouco. Hoje, bem que se podiam comer as cerejas ao borralho com o dia invernoso que esteve!

Um dia destes depois de ter ouvido este tão nobre ditado das cerejas questionei um idoso sobre a importância dos ditados antigos, onde ele me referia que a sua geração tinha vivido em função deles e que acabava sempre por dar certo. Questionou a hipótese de eu não acreditar, interrogou-se sobre a importância que lhe estava a dar! Deveria estar a pensar…para que quer ela saber de coisas antigas! Mas lá foi citando inúmeros e cada um com mais sentido que outro, fiquei deslumbrada a ouvi-lo falar. Na realidade estou na meia idade, a idade em que paramos de criticar os velhos e passamos a criticar os novos, e digo isto porque os jovens de hoje não são capazes de acreditar em nada destas coisas… são coisas antigas dizem eles!…A exemplo disso riem quando dizemos… vai mudar o tempo porque dói um joelho… vermelho ao mar, pega nos bois e vai lavrar… Lua nova molhada trinta dias de trovoada!…As conversas são como as cerejas…Em Agosto toda a fruta têm seu gosto… Um Pai trata dez filhos, mas dez filhos não tratam um pai…mais e mais, todos com a sua voz da verdade! Pena que os jovens não lhes reconhecem a importância. Os ditados populares são parte da nossa cultura, são a voz do povo que os preservou, são a voz da verdade, encerram conhecimentos feitos de experiencia, e pela beleza das suas metáforas são tão agradáveis de se ouvir. Abordam aspectos fundamentais de vida que veiculam a opinião geral, aconselham, criticam, proíbem, em suma uma fonte de conhecimentos dos valores éticos e sociais de um povo. Poder estar sentada a ouvi-los diante alguém que não somente os profere mas ainda lhes dá o valor que eles merecem é acima de tudo uma experiencia única! Assim sendo só me resta dizer que desta minha conversa só confirmo que…”As conversas são como as cerejas”…tal como as cerejas que não comemos apenas uma porque nos custa parar, falar em provérbios é o mesmo que pedir mais e mais.

Para terminar deixo ainda a ideia de que …”A cereja no topo do bolo”…será a vossa opinião, não esquecendo que para além de fazerem parte dos provérbios as cerejas são um fruto lindo, da família dos frutos frutos vermelhos …ajudam a combater o envelhecimento! Vamos lá comer cerejas…mas com moderação! Senão depois não tenho velhinhos para cuidar!

 
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A última Etapa