Entrevista a Maria Benedita Provolone – Amílcar Monteiro

Maria Benedita Provolone é um ícone de altruísmo no nosso país. Há mais de quinze anos que promove diversas iniciativas de caridade para ajudar quem precisa, sendo igualmente voluntária em várias instituições de solidariedade social. Encontrámo-nos com ela num evento de angariação de fundos para as vítimas de Estrabismo Mamilar, uma das muitas causas pelas quais dá a cara, e falámos um pouco sobre as suas motivações e experiência no campo do voluntariado.

Não há dúvida que a Maria Benedita é uma figura incontornável da solidariedade em Portugal. Porque o faz?

Pura e simplesmente porque que adoro ajudar os outros. É o meu maior defeito: ajudo demais as pessoas, estou sempre a querer ajudar. Aliás, podem comprovar isso mesmo indo ao meu Facebook. Eu sou o tipo de pessoa que põe sempre no meu status aquelas frases enternecedoras como “se conheces uma mulher que tentou fazer um aborto só que aquilo não correu bem porque  o feto não morreu e, passado dois anos, voltou e tentou estrangulá-la com o cordão umbilical, então põe isto no teu mural”. Para além disso, também tenho imensas causas lá. Mas são causas com que me preocupo mesmo e leio sobre elas. Causas como o cancro, o HIV e a Escoliose Lateral Amiotrópica, que, salvo erro, é uma doença raríssima que se apanha nos trópicos.

E para além do Facebook, de que outras formas gosta de ajudar?

Sempre que posso organizo marchas, festas de beneficiência e exposições de arte para angariar dinheiro para uma causa. Na verdade, a organização de eventos é a minha forma predilecta de ajudar os outros, pois assim evito a maçada de ter de ouvir as queixas e o sofrimento das pessoas ou de ter de tocar-lhes, porque nunca se sabe o que é que podemos apanhar.

Sei que também faz voluntariado num lar de idosos, não é verdade?

Sim. Sabe, o voluntariado é uma coisa que me faz sentir bem. Vou ao lar uma vez por mês, durante vinte minutos e fico a conversar com os velhinhos. Digo-lhes aquelas coisas todas que eles gostam: que não há problemas, que vai ficar tudo bem, para eles não se preocuparem. Até já cheguei a dar-lhes comida à boca. Não que eles precisem – porque eles conseguem comer sozinhos – mas porque eu acho ternurento fazer o aviãozinho.  Mas não julguem que é fácil, que às vezes eles não querem comer e eu tenho que os obrigar! É como as crianças, é igual. E Deus sabe como eu adoro crianças.

Das experiências de voluntariado pelas quais a Maria Benedita já passou, qual foi a mais gratificante?

Sem dúvida o tempo que passei em África.

Imagino que tenha sido uma experiência intensa. Em que países esteve?

Olhe, agora não me lembro bem dos nomes porque os países são todos muito parecidos, mas gostei imenso da experiência, foi  particularmente recompensadora.

Particularmente recompensadora? Porquê?

Antes de mais porque apanhei um bronzeado monumental! E não era daqueles cor-de-laranja do solário, como se vê por aí, é mesmo aquele bronzeado que só há neste países. Acho que tem a ver com o buraco do Outono mas não tenho bem a certeza. Havia de ver a cara de inveja das minhas amigas quando voltei! (risos)

Mas decerto existiram outras razões para ter sido uma experiência tão recompensadora…

Sim, claro! Também foi muito gratificante porque eu tive a ajudar os pobrezinhos de lá. Até andei com um bébé africano ao colo, veja bem! Quem não acreditar pode ir ao meu Facebook que eu tenho lá fotos. E fiquei impressionadíssima quando lhes tive a dar de comer. Alguns até vieram vieram comer arroz à minha mão, a chorarem…. Foi nesse momento que percebi que eles são mesmo como nós, dava para ver nos olhinhos deles. São criaturas realmente adoráveis. Aliás, só para perceber o quão humana eu sou, deixe-me que lhe diga que até trouxe de lá uma criança.

Não sabia que tinha adoptado uma criança desfavorecida. Diga-me, qual o nome da criança?

Não foi bem adoptar uma criança. O que fiz foi trocá-la com os pais por dois sacos de arroz. Inicialmente não queriam fazer a troca mas depois quando uns homens que eu contratei foram falar com eles, os pais lá perceberam que até seria um bom negócio. Quanto ao nome da criança, o rapazinho chamava-se N’Gwande ou N’Dande ou qualquer coisa do género, mas como eu não gostava muito decidi mudar para Constança, que é um nome que eu sempre amei.

E como está a ser a sua adaptação a esta nova realidade?

Óptima! A empregada diz que não dá chatices nenhumas. O problema vai ser quando crescer, porque acho que é preciso educar e não sei quê. Mas depois na altura logo se vê. De qualquer maneira, aconselho qualquer pessoa a adoptar uma criança destas: não só são muito ternurentas e leais, como também são maravilhosas para levar a sítios públicos, pois assim toda a gente percebe que nós somos pessoas muito solidárias e altruístas. ■



Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
Visite o blog do autor: aqui