Entrevista ao Guru Meggha Boorlau – Amílcar Monteiro

O Guru Meggha Boorlau é um dos principais guias espirituais da nova geração. Como todos os gurus, tem um nome esquisito e milhares de seguidores que escutam atentamente os seus ensinamentos. Fomos ao seu encontro no rancho Haldrabiize, na Birmânia, do qual é proprietário. Entre a sua agenda preenchida, constituída por falar em público, dormir e estar parado sem fazer nada (algo a que chama “meditar”), tivémos a sorte de conseguir falar com ele.

Guru Meggha Boorlau, poderia dizer-nos quais as ideias fundamentais dos seus ensinamentos?

Como qualquer guru da nova geração, os meus ensinamentos centram-se em três ideias fundamentais: que a realidade não é, de facto, a realidade, mas sim uma espécie de sonho;  que fazemos todos parte da mesma coisa, estamos interligados,  somos todos um único organismo; e que só iluminados como eu conseguem aceder às duas ideias anteriores.

E todas as pessoas têm o potencial para atingir essa iluminação que refere?

Sim. Todas as pessoas podem atingir o estado de iluminação, desde que sigam alguns dos passos que eu defini.

Que passos são esses?

Antes de mais, abdicarem de toda a lógica, racionalidade e pensamento próprio. O passo seguinte é comprarem todos os meus livros, cd’s e dvd’s.

Desculpe, Guru, mas isso não é estar a fomentar o materialismo e consumismo em vez da espiritualidade?

Não, antes pelo contrário. Ao comprarem o meu merchandising, as pessoas não só estão a obter ensinamentos profundos sobre a vida, como também estão a despojar-se do seu dinheiro.  Ou seja, estão a abdicar dos seus bens materiais em prol da espiritualidade.

Magnífico, Guru. E existem mais passos?

Sim. Se for homem, deve doar-me terrenos para eu poder expandir o meu rancho e, dessa forma, conseguir albergar mais seguidores interessados em atingir a iluminação. Se for mulher, deve vir viver para o rancho comigo e satisfazer todas as minhas necessidades.

Então mas como é que satisfazer as suas necessidades contribui para atingir o tal estado de iluminação?

É muito simples, na verdade. Se eu tiver várias mulheres que tomem conta do meu rancho, limpem, cozinhem e satisfaçam todos os meus caprichos sexuais, isso vai-me deixar preocupações e sem desejos. Ou seja, contribui para que eu esteja num estado de absoluto pacifismo e satisfação, algo a que chamo Póz Coytus. Ora se eu estiver nesse estado, terei a mente límpida e, desse modo, mais tempo para pensar em respostas ocas e ambíguas para perguntas incómodas colocadas pelos meus seguidores, respostas essas que as pessoas têm vergonha de admitir que não entendem, pelo que as engolem e acreditam que é algo dito por um ser iluminado.

Muito interessante. E foi seguindo estes passos que o próprio Guru atingiu a iluminação?

Não. Eu atingi esse estado de outra forma. Através de uma epifania.

E como ocorreu essa epifania?

Sabe, antes de ter atingido este estado, eu era uma pessoa como qualquer outra, presa a um mundo de ilusão. Essa ilusão fazia com que eu fosse trabalhar todos os dias para ganhar dinheiro. Então, um belo dia, estava a ver um documentário na televisão sobre os milhões que as seitas religiosas ganhavam e tive a tal epifania. Percebi nesse momento que nada existe, que tudo é nada, que nós estamos ligados nesse nada e que para o percebermos temos de eliminar o nosso ego. E, a partir desse dia, decidi tornar-me num guia espiritual e ensinar isso às pessoas.

Muito interessante. Só uma última pergunta: o Guru diz todos estamos interligados, ideia a que só conseguiremos aceder se aniquilarmos o nosso ego, a nossa individualidade. Assim sendo, não lhe parece então um contrasenso que seja apenas uma única pessoa, um único indivíduo – neste caso o Guru – que detém todas as respostas para atingir esse estado de iluminação?

Excelente questão. Posso responder-lhe a isso da seguinte forma: a magnitude da existência não é transmutável e, por isso, temos de esvaziar o pensamento para aceitar a imobilidade interior do amor que flui na consciência una da totalidade do agora. ■


Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
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