Neste nosso país à beira-mar plantado existe muito o costume de tornar o destino o grande culpado de todos os nossos males, de dizer que se “tinha de acontecer, aconteceu”, de fugir às nossas responsabilidades como se não houvesse amanhã.
Mas sejamos francamente realistas. A grande maioria das coisas que acontecem são culpa nossa, pura e simplesmente. Não do destino.
Quando um jovem sai à noite, se embebeda e tem um acidente de carro, a culpa não é do destino. O acidente é consequência da escolha que ele fez: beber e conduzir.
Quando um homem que toda a vida fumou morre de cancro, a culpa não é do destino nem de um qualquer Deus que lhe impôs a doença. É da sua escolha de ser fumador.
Que cada um é livre de fazer o que quiser, já todos sabemos, e ainda bem que assim é. Mas não assumir a responsabilidade pelo que se faz é só inútil.
O que muitas vezes não percebemos são as decisões que tomamos em grupo, enquanto humanidade, e a forma como isso afecta a todos nós.
Estamos cada vez mais frágeis, existem cada vez mais pessoas doentes. Há cada vez mais casos de cancro, alergias, doenças cardíacas e tantas, tantas outras…
Destino? Não. Consequência.
Consequência da poluição que criamos com os nossos transportes, fábricas, e com a destruição das florestas que antes purificavam o ar.
Consequência dos químicos que ingerimos nas frutas e legumes e das as hormonas que pomos nas carne e no peixe.
Consequência da vida sedentária que levamos e da má alimentação que fazemos. Tudo para quê? Para satisfazer o nosso consumismo desenfreado e tantas, tantas vezes desnecessário?
Bem, o nosso consumismo está a matar-nos aos poucos. E a culpa é nossa, de mais ninguém.
Assinamos petições contra a desflorestação mas continuamos a consumir os produtos que levaram o capitalismo a destruir essas florestas e que poderiam tão facilmente ser substituidos por outros.
Protestamos, tossimos e reclamamos da poluição nas cidades mas poucos são os que se dão ao trabalho de subir a rua a pé.
Queremos produtos de qualidade mas continuamos a consumir, a dar o nosso dinheiro a quem nos enche de químicos e hormonas.
Pomos like na foto da pobreza que partilham no facebook e fingimos que acreditamos que isso vai criar uma doação de dinheiro.
Amenizamos a consciência com falsas verdades mas não levantamos os olhos do computador para tentar salvar o planeta.
Estamos a matar a humanidade e o planeta, aos poucos. E a culpa é nossa, de mais ninguém.
Tornemo-nos hoje responsáveis pelas nossas escolhas. Só assim haverá um amanhã.
(Recomenda-se, aos interessados, que vejam o documentário Cowspiracy)
Artigo enviado pela leitora Anabela Risso
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