Especial Óscares

Este mês os Óscares reinam o mundo do cinema ocidental e por isso também esta rubrica decidiu juntar-se a febre de domingo à noite e fazer a cobertura do grandioso espectáculo mas acima de tudo dos prémios e atribuições. Portanto a rubrica deste mês vai desenrolar-se de maneira bastante diferente do habitual. Em primeiro lugar, farei uma mini review dos 9 filmes nomeados para o melhor deste ano, sendo que a partir dai a escada está lançada para perceber muitos dos prémios e nomeações… vamos fazer de conta que os prémios ainda não foram atribuídos…

12 Anos Escravo

8.5

Já falei dele e pouco há a acrescentar. Peca pela sua centralização na personagem principal deixando plot holes, no entanto, vale pela interpretação das personagens que se conseguem manter durante algum tempo no ecrã. A história é sensibilizante e demonstra os horríveis anos da escravatura tentando relembrar um passado ainda mal sarado de muitos afro-americanos e que não deve ser esquecido.

 

 

 

 

 

Golpada Americana

7.0

Um filme com uma história que não é propriamente inovadora. Vale pelas interpretações dos actores e pela maneira como a trama se desenvolve mesmo quando o elemento surpresa se esgotou. Christian Bale faz, como já começa a ser habitual, outro grande papel que o fez ganhar 40 quilos. A academia aprecia esse tipo de transformações e de certo modo aprecia também este tipo de filmes que satiriza com algum humor e drama questões como a corrupção e o crime.

 

 

 

 

Capitão Phillips

8.0

Um filme que pelo que parece é um exagero de uma história verídica, no entanto, destaca-se pela carga humana e pelo papel de Tom Hanks que consegue demonstrar uma grande adaptabilidade no decorrer do filme com todo o mix de emoções que explodem. É uma história de sobrevivência que gira em torno do herói do filme mas que não deixa de mostrar a perspectiva dos “vilões”.

 

 

 

 

O Clube de Dallas

8.5

A história é interessante e as interpretações dos actores conseguem prender a audiência. Lidar com um tema como a SIDA não é fácil, traçar uma história que ronda o problema e fazer com que os actores “vistam” a doença é ainda mais difícil. No entanto, o produto final é assombroso e demonstra uma época oculta para quem não passou pelo problema através de familiares e amigos apanhados subitamente pelo HIV.

 

 

 

 

Gravidade

7.0

Pouca história, muitos efeitos especiais, interpretações decentes. Pela primeira vez um filme transportou verdadeiramente uma audiência para o espaço, é isso é inovador, a música ajuda nesse transporte. O produto final podia ser melhor mas não deixa de ser um filme agradável à vista com alguns e pequenos plot twists.

 

 

 

 

 

Uma História de Amor

 9.0

Um título horrível na sua versão portuguesa que faz lembrar um chick flick qualquer, no entanto, está longe disso. Apresenta uma historia inovadora e uma cinematografia e realização interessante sendo possivelmente o filme que mais desfrutei em ver nos últimos anos e ao qual dou o maior rating. Joaquin Phoenix faz mais uma vez um excelente papel, muito diferente dos que já tinha presenciado.

 

 

 

Nebraska

 7.0

Uma ode à velhice, à mesquinhice e ao oportunismo. Destaca-se pelo seu formato black & white e pela transformação da casmurrice em aventura. Aventura esta cheia de peripécias e do humor à custa da terceira idade. Faz pensar e reflectir e talvez por isso alcance o perfil de nomeado aos óscares.

 

 

Philomena

 7.0

Um filme sobre a procura que podendo ser inglória deixa algumas lições. Fala sobre duas visões diferentes, num choque entre o ateísmo e o catolicismo que toca principalmente a questão ideológica de forma bastante pertinente.

Judi Dench, como sempre à altura da nomeação, transforma-se e afasta-se completamente do que estamos habituados na saga de 007. Uma película bastante interessante e que dá que pensar.

 

 

 

O Lobo de Wall Street

8.0

Um filme de Martin Scorsese que apresenta o seu já habitual estilo. Tem drama mas parece estar tudo embrulhado em comédia num relato em primeira pessoa, com Leonardo DiCaprio a fazer um excelente papel que de certo modo não deixa de ter um toque disso mesmo… de DiCaprio.

Este é um filme que por vezes parece descer de classe, talvez por eu não suportar Jonah Hill e associá-lo sempre a comédia barata, no entanto, como produto final vale por DiCaprio e pela história satírica.

 

 

 

Agora que o palco está montado apresento os vencedores e o prognóstico que tinha teorizado para os prémios. O prognóstico baseia-se não apenas no que eu acho que academia poderia ter decidido mas também numa mistura do que eu gostaria de ver como vencedores. Vou apenas cobrir os prémios mais importantes uma vez que a lista é extensa deixando no fim espaço para a menção dos vencedores das outras nomeações. Comecemos…

Pouca surpresa para esta nomeação e ainda menos para a atribuição do prémio. Her era o filme que apresentava a história mais original, sendo a expressão do sentimento universal, com contornos extremamente complexos e com algum  espaço para questões morais. É por essa originalidade que a própria academia terá escolhido o filme da mesma forma que eu também escolhi na minha previsão. É o único óscar para Her mas era talvez a estatueta que mais merecia.

Outro vencedor que não era propriamente uma surpresa. Baseado numa biografia da personagem real, 12 Anos Escravo levava a vantagem devido aos temas como o racismo e o período de escravatura nos EUA. Poucos teriam o peso que este filme representava na sociedade americana e por isso o prémio era quase garantido sendo baseado na biografia do protagonista.

A concorrência era fraquíssima portanto pouco há a dizer. Frozen levou para casa a estatueta de Melhor Filme de Animação e o de melhor musica original.

E aqui começa o meu azar em termos de previsões. Tudo indicava que Jennifer Lawrence era a vencedora da estatueta de melhor Actriz Secundária pelo seu papel em Golpada Americana. Para o espanto de muitos ganhou sim Lupita Nyong’o em 12 Anos Escravo. Não que não seja um prémio merecido, Nyong’o faz um papel que se destaca sem duvida num filme onde a personagem central rouba bastante do possível protagonismo por ser um filme biográfico.

Na categoria de melhor Actor Secundário havia para mim dois grandes candidatos (estão ambos representados em cima). Apostei mais em Fassbender do que Jared Leto e pelo que parece a academia pregou-me uma partida. Fassbender foi o mau da fita sem escrúpulos num papel genial; Jared Leto transformou-se completamente e isso deu-lhe bastantes pontos de avanço ao interpretar um transsexual portador de HIV. Um papel que o fez perder pelo menos duas dezenas de quilos de modo a representar melhor a doença. Depois de um discurso emocionante, ainda bem que ganhou o óscar.

Não havia duvidas que Galadriel… desculpem… Cate Blanchett era a principal candidata, no entanto, depois da surpresa de Lupita Nyong’o tudo poderia eventualmente acontecer. No entanto, as suspeitas que eu tinha juntamente com os diversos órgãos de media mostraram-se acertadas. Em Blue Jasmine a actriz brilhou com uma interpretação intensa. Embora o filme não tenha chegado à corrida para o pódio leva com esta estatueta de Melhor Actriz Principal o reconhecimento merecido.

Sim, eu acertei nos vencedores da categoria de actores principais. E porque não DiCaprio? Bom, a academia gosta muito de papeis que levem os actores a transformações limite. DiCaprio foi DiCaprio por mais mestre de representação que seja. McConaughey foi algo completamente diferente, deu o corpo e a alma pela personagem e os resultados estão evidentes. Era o único superior a DiCaprio e foi aquele que ganhou com mérito. Se O Clube de Dallas tivesse saído noutro ano DiCaprio tinha ganhos sem discussões. Digamos que DiCaprio tem tido azar…

Estou um bocado desiludido com a entrega do óscar de Melhor Realizador. Alfonso Cuarón é um bom realizador mas escondeu-se um pouco atrás da equipa técnica de Gravity e do ecrã azul. Steve McQueen teria recebido o óscar por ter oferecido uma experiência muito menos sintética. Ambos os produtos finais estão bem conseguidos mas o mérito de Gravity está muito mais ligado a equipa técnica do que a realização.

E finalmente a ultima estatueta, a de Melhor Filme. Sou realista, Her nunca ganharia embora seja o meu favorito. A escolha parecia saltar entre O Clube da Dallas e O Lobo de Wall Street seguido não muito atrás por 12 Anos Escravo. Parece afinal que este ultimo é que estava na dianteira da corrida e acabou por ganhar. Acredito que não tenha sido uma escolha fácil para a academia. O meu prognóstico apontava para Dallas pela história e pelo drama de uma época, sentimento que se fortaleceu com os dois vencedores de óscar para actor principal e secundário durante a cerimonia. 12 Anos Escravo é no entanto o justo vencedor numa noite onde a qualidade dos filmes era muito equiparada.

Por fim resta dar as condolências ao Lobo de Wall Street e à Golpada Americana por não ganharem absolutamente nada. Entre os outros prémios a maior parte dos relacionados com técnica e efeitos especiais foram atribuídos a Gravity e com todo o mérito. Este filme ganhou também o óscar de melhor banda sonora. O melhor filme estrangeiro foi o italiano A Grande Beleza que ainda não tive oportunidade de ver.

Quanto à cerimónia, como sempre Ellen Degeneres foi a anfitriã perfeita para uma festa que embora bastante aristocrática e séria mereceu uma abordagem mais descontraída da apresentadora, sempre com um humor apurado. Para mim pode apresentar mais vezes. Destaque ainda para a homenagem ao Feiticeiro de Oz com uma performance assombrosa de Pink.

Não discutirei guarda-roupa porque não parece ser o tema que realmente interesse…

Deixe as suas opiniões sobre os óscares nos comentários em baixo. Tem algum filme que gostava que fosse alvo de review? Gostava que eu apresentasse um top 10 relacionado com o mundo do cinema? Diga-nos as suas sugestões, partilhe e leia. Até ao próximo mês com mais cinema…

Artigo de Luís Antunes