Estar apaixonado – Bruno Neves

Estar apaixonado é a melhor sensação do mundo e só quem nunca esteve realmente apaixonado é que pode dizer o contrário. Este é um texto que vem completar uma trilogia sobre o amor. Primeiro foram as várias formas que o amor assume ao longo dos anos e a forma como ele evolui, depois a rejeição e agora o estar apaixonado.

Estar apaixonado é como que receber uma dose dupla de energia, é sentirmo-nos a pessoa mais feliz do mundo, é ter sempre os olhos a brilhar, é não conseguir pensar em mais nada nem em mais ninguém a não ser “naquela” pessoa e no momento em que a vamos rever. É querer estar sempre com essa pessoa e estar disposto a fazer tudo, e quando eu digo tudo é mesmo tudo, para estar dois minutos com ela e trocar meia dúzia de palavras. É ter um arrepio na espinha e um friozinho na barriga sempre que vemos a pessoa amada. É não ver nem ouvir mais ninguém mesmo que estejamos no meio da multidão.

É estar sempre a olhar para o telemóvel e a roer as unhas enquanto ela não responde à mensagem que lhe mandámos. É ficar com o coração nas mãos se não temos uma resposta passados dez minutos pensando logo o pior. É esperar ansiosamente pelo momento em que os nossos lábios e os dela se vão reencontrar e como se aquele fosse o último beijo antes do Juízo Final. É perder o fôlego enquanto esse mesmo beijo acontece, qual asmático que em pleno ataque de asma revira toda a casa procurando pela sua bomba. É fazer dessa pessoa o nosso último pensamento antes de adormecermos e o primeiro assim que acordamos. É enviar uma mensagem a dizer “boa noite, dorme bem” antes de nos deitarmos e uma a dizer “bom dia, lembrei-me de ti ao acordar” quando nos levantamos. É querer partilhar com ela todos os momentos, inclusivamente os mais pequenos e aparentemente insignificantes.

É sentirmo-nos preenchidos e completos quando estamos lado a lado. É dar mais valor aos pequenos gestos como dar as mãos. É redescobrir o quão bom pode ser um abraço. É ser capaz de correr a meia maratona ou de ir a Fátima a pé para satisfazer um pedido ou fazer uma vontade à pessoa amada. É ter ciúmes quando o alvo principal da atenção da pessoa amanha não somos nós. É ser egoísta ao ponto de não a querermos partilhar com mais ninguém nem com a família ou os amigos.

É não gostar de ver outros homens a olhar para o decote ou para os minicalções que a nossa “mais-que-tudo” tem vestidos. É achar que todos os homens presentes na praia estão de olhos bem fixados na nossa paixão e no seu bikini bem mais reduzido do que seria se fosse ao nosso gosto. É achar que todos os comentários e risos entre homens quando ela passa são piropos indecentes envolvendo actividades demasiado físicas e certamente bem longe do limite invisível por nós traçado.

Sabemos que estamos realmente apaixonados quando gostamos de tudo o que a outra pessoa faz ou diz e quando até os mais irritantes defeitos passam a ser “fofinhos” ou “queridos”.

Quer queiramos quer não tudo tem um fim, tudo está à partida condenado a terminar. O que nos compete é dar sempre 200% para tornar estes períodos cada vez mais prolongados no tempo adiando assim sucessivamente a despedida final. Compete-nos viver intensamente todos os segundos e aproveitar cada instante como se fosse o último. Compete-nos amarmos os outros como nos amamos a nós próprios e dizer tudo o que sentimos e queremos dizer em tempo útil, não deixando pra amanhã o que podemos dizer ou fazer hoje.

O amor é perito em nos pregar rasteiras, em nos empurrar das escadas abaixo e fazer-nos sofrer de diversas formas e o cupido tem prazer em nos enganar acertando-nos com as suas flechas quando devia de estar quieto no seu canto. Mas nós temos de ser capazes de superar tudo isso, de colocar o nosso olhar no horizonte e pensar no que o futuro nos reserva e não no aconteceu no passado. Não nos devemos esquecer do que aconteceu, mas também não devemos de viver obcecados com isso.

Vivam intensamente, apaixonem-se, não tenham medo de errar e mantenham o olhar colado ao horizonte e nunca ao espelho retrovisor.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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