Estás no meu lado da cama… – Gil Oliveira

Quando me apresentarem um casal em que nenhum dos membros já tenha proferido tais palavras, eu atiro foguetes…

O lado da cama é quase tão importante e intransponível como as fronteiras de um País. Creio até que já existiram divórcios devido a transgressões feitas por um ou outro parceiro, em determinada altura da vida conjunta. E atenção, eu não me refiro a transgressões feitas em camas alheias, eu falo apenas, do simples facto de um dos dois se atrever a dormir do lado da cama que não lhe pertence…

Eu durmo do lado direito. Quer dizer, eu acho que é o direito. Até porque outra coisa que sempre me fez muita confusão é como é que se distingue o lado direito do esquerdo numa cama. Como se sabe qual é qual? Será que o correcto é dizermos que o lado direito é aquele que fica à direita quando estamos de frente para a cama ou quando estamos deitados nela? E aí consideramos que é a cabeceira da cama que determina a direita e a esquerda? (São estas as dúvidas com que me deparo diariamente, caro leitor. Ter este tipo de dúvidas existenciais nos dias que correm é porque somos uns sortudos, ou então, porque somos um bocado parvos… Eu creio que o meu caso é mais o último. Mas pronto, avancemos.)

Após decidirmos qual o lado que pertence a cada um e tentarmos ao máximo cumprir o acordo pré-estabelecido, começa outra guerra. A guerra do “Estás muito chegado(a) para o meu lado”. Aqui, diga-se o que se disser, vamos achar sempre que o outro está a ocupar o nosso espaço. Podemos até ter mais de meio metro, entre o nosso corpo e o fim da cama, mas se por acaso, o nosso mais-que-tudo calha a chegar-se um pouco mais para o nosso lado, disparamos logo: “Estás muito chegado para o meu lado. Chega-te para lá!”. Pode até não ser verdade mas, não sei porquê, quando estamos deitados perdemos a noção do espaço. Todo o espaço da cama é nosso e qualquer tentativa de invasão é interpretada como um assalto ao nosso território. Excepto claro, se essa invasão vier acompanhada de beijos e carícias. Aí muda tudo. Percebemos logo que a invasão tem outro propósito e assim já não nos importamos. A cama passa a ser um todo, o espaço é dos dois, o meu lado é dela e o dela é meu, a cama duplica, triplica, se for preciso até quadruplica.
Claro que depois das segundas intenções invasivas terminarem, ficamos mais generosos no que toca ao espaço, se for preciso até ficamos os dois a fazer “conchinha” na fronteira territorial. Mas… (e há sempre um mas…) só durante alguns instantes. Depois, cada vira-se para o seu lado e se por ventura voltar a haver invasão do nosso espaço, voltamos à guerra!

Inventores de jigajogas e traquitanas, deixo-vos aqui um conselho que fará com que fiquem milionários. Criem um dispositivo que apite quando existir uma transposição do meio da cama… Ou melhor, que dê choques ao invasor! Tenho cá para mim, que todos aqueles que partilham uma cama iriam gostar bastante de ter tal invenção.
Obrigado e bons sonhos!

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Crónica de Gil Oliveira
Graças a Dois
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