Eu, filho único, me confesso – Bruno Neves

Se não faz parte do lote dos leitores distraídos já percebeu pelo título que o texto desta semana é, obviamente, sobre a cultura da beterraba. A sua produtividade média é de trinta a quarenta toneladas de raízes tuberosas por hectare. A beterraba é consumida…..bom, se calhar deixávamos isto para uma outra altura e vamos mas é ao assunto que realmente interessa não é? Quase que vos enganei não foi? Eu não sou chamado de Luís de Matos à toa! “Ah, mas quem é que te chama isso?” Mau, mas alguém vos deu autorização para fazerem perguntas? A todos os verdadeiros agricultores as minhas desculpas caso esteja presente alguma imprecisão. Ainda só escrevi meia dúzia de linhas e já pedi desculpas e tudo, isto só pode correr bem daqui para frente.

Indo finalmente a coisas sérias: sou filho único. Não que tenha sido por falta de eu pedir um irmão ou uma irmã. Aliás, durante anos essa era a minha principal função: pedir um mano ou uma mana. Contudo, como já se percebeu falhei nessa minha missão. Mas a vida é como é e o destino quis, e por um lado bem julgo eu, poupar os meus pais a terem de aturar uma segunda criança ainda “pior” que a primeira. Sim porque sempre ouvi dizer que “o segundo filho é sempre pior que o primeiro”. E acho que foi aí que eu falhei.

Aposto que os meus pais a certa altura tiveram a seguinte conversa: “Então e vamos tentar ter um segundo filho? Ai, achas que devemos? Eu acho, porque não devíamos de tentar? Opah, sei lá, mas sempre ouvi dizer que o segundo filho é muito pior que o primeiro. Oh, isso são dizeres populares, não tem fundo de verdade. Oh, mas os dizeres antigos geralmente estão certos, e se é verdade? Pois, pensando bem tens razão…e se nos calha um ainda pior? Uii, nem quero pensar nisso! Este já é o que é, fará se for igual mas ainda mais traquina e rebelde! Então vamos jogar pelo seguro e ficamo-nos pelo primeiro? Sim, pensando bem é capaz de ser melhor…”. Para mim foi isto que aconteceu.

“Ah, mas ser filho único às vezes não é aborrecido?” Vocês hoje estão extremamente interventivos…gosto disso! Sim, por vezes é. Principalmente em criança/adolescente. Nas alturas em que queremos brincar e a única pessoa para o fazer….somos nós mesmos há que dar largas à imaginação. Eu nunca estive sozinho porque estava…comigo mesmo. Bastava fazer uma voz diferente e inventar umas falas quaisquer malucas e era como se tivesse outra criança com quem brincar. Eu bem sei que não tem nada haver, mas quando se é filho único é melhor brincarmos com um amigo imaginário do que sozinhos. Ou seja, acabei por ganhar uma imaginação que hoje em dia me dá muito jeito e que muito provavelmente não teria ganho caso tivesse um irmão.

Posso não ter irmãos de sangue, mas tenho uns quantos irmãos filhos de outra mãe. Pessoas que ao longo da minha vida foram preponderantes e que provaram ser merecedores da minha amizade. Essas pessoas (que o leitor certamente também terá na sua vida) é como se fossem nossos irmãos. Não o são de verdade (e aliás, em muitos dos casos apenas o são em certas fases específicas da nossa vida), mas é como se fossem. E se hoje sou quem sou, em parte, a responsabilidade também é deles. A eles, que sabem quem são (que cliché gigantesco meu Deus!), o meu sincero e emocionado obrigado por tudo!

Portanto, como em tudo na vida, nem tudo é mau. É preciso é saber ver o lado positivo.

Boa semana.
Boas leituras.

 

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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