Facto: adoro uma tarde de Sábado sozinha… – Laura Paiva

Facto: adoro os fins-de-semana.
Facto: amo a companhia da família aos dias úteis e, em especial, aos fins-de-semana.
Facto: adoro uma tarde de Sábado sozinha…

Um contra-senso!
Hoje, Sábado, os homens da casa saíram a meio da tarde. Fiquei com a casa toda só para mim… Que maravilha.
O comando da televisão sussurra-me que tenho alguns programas gravados que ainda não vi e o sofá parece anuir, convidando-me a sentar. É mesmo isso que vou fazer! Vou vegetar, toda a tarde em frente ao televisor… Talvez até acenda a lareira, só para dar ambiente!

O melhor é mesmo preparar já um snack para depois não ter de me levantar e interromper o bem-bom.
Passo pelos quartos e vejo que as camas ainda estão por fazer… começo a ficar dividida. Não, nem pensar. A tarde é minha – que se lixe a casa, que se lixem as camas…

Vou preparar o snack. Bolas! Quase não há fruta… Vou comprar fruta e volto já já.
Volto ao quarto para me arranjar e lá está ela: a cama com as entranhas de fora, no que eu imagino seja uma verdadeira agonia. Visto-me quase de costas voltadas, sem ter coragem de olhá-la nos olhos e ver como sofre. Não aguento mais o seu sofrimento e acabo por me decidir a fazê-la. Pesa-me a consciência por ter sequer considerado ignorá-la.
Mas, agora que fiz esta, é justo que a outra cama fique por fazer? Ai fica, fica porque vou fechar a porta do quarto do filho e já não tenho de ver aquele cenário. Mas para fechar a porta do quarto, vou vê-la… Pronto, já percebi que não consigo beneficiar uma em detrimento da outra. Puxa de um lado, puxa de outro, paletes de almofadas arrumadas e, voilá, sinto-me mais justa.

Pego na carteira e saio. Dou comigo a pensar que o melhor é comprar já os legumes para a sopa e mais algumas coisitas em falta, além da fruta – é isso mesmo, fica já tudo resolvido de uma vez. Já na mercearia, parece que levei um soco e estou atordoada – desde quando é que há tanta variedade de frutas e legumes? Caramba, eu não queria demorar e isto revela-se uma tarefa árdua – pega num saco, coloca maçãs; pega num saco, coloca bananas e mais um saco, e outro…  Agora os legumes – mas porque é que nunca faço uma sopa só com dois legumes, no máximo? Espero, tudo menos, pacientemente na fila da caixa.


Ao fim de uma eternidade, estou de volta à rua, compras feitas mas com uma sensação de vazio! Falta-me um café – é isso mesmo que me falta e são só mais 5 minutinhos. E se comesse uma daquelas fatias de Resende, que tanto adoro? Porque não?
A confeitaria fica já ali. Só não me parece nada bem comer aquela iguaria de pé, ao balcão. Não, vou ter de me sentar para saboreá-la como deve ser. Abençoada terra – Resende – que me oferece algo tão delicioso. Pago e saio.

De volta a casa, atiro os sacos das compras para cima da mesa da cozinha – não há nada que tenha de ser guardado de imediato e estou atrasada. Olho para o relógio, são  18.45h e sinto uma raiva crescente em mim! Porque raio é que já são estas horas? Nem quero acreditar. Chego à sala e vejo as minhas gatas, enroscadas no puff, a dormir o sono dos justos sem preocupações domésticas.

Com jantar marcado às 20h, em casa da minha mãe, só me resta uma alternativa – um bom banho de imersão para afogar a raiva. Já não o fazia há séculos mas, pelo menos isso, consegui e correu como planeado!

Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos