Fazendo desaparecer o que não faz falta – Laura Paiva

Volta e meia, faço desaparecer o que não faz falta – e que, na verdade, nunca provou vir a fazer – do meu porta-moedas.
Tenho o péssimo hábito de guardar, religiosamente, todos os papéis, papelinhos e afins. Vai-se a ver e, tal facto, deve-se ao tamanho do dito e à falta de notas de euro para o encher – só assim evitava tantos papéis e papelinhos que têm uma grande tendência de reprodução uma vez guardados (principalmente os dos gastos).

Mais esporadicamente, faço uma revisão à minha “caixa guarda-tudo”. Tudo o que não sei onde guardar, vai para um local de transição – a caixa guarda-tudo. Daí, ou vai directo para o lixo porque já passou a validade ou segue para o seu lugar definitivo.

Ainda que com menor frequência, até o telemóvel é alvo de um acto de ilusionismo – faço desaparecer todas as mensagens (que teimo em guardar porque podem vir, um dia, a ser úteis) e o registo das chamadas.

Mas hoje decidi que preciso, urgentemente, fazer desaparecer o que não faz falta na minha página no facebook.
Páginas que gostei em demasia, pessoas que “amiguei” porque sim e que não estão a contribuir para a minha sanidade mental e felicidade, terão de desaparecer a curto prazo.
Mas onde tinha eu a cabeça para seguir tantas páginas?!?!?!
– decoração com ideias que saem fora do meu orçamento,
– viagens que nunca farei,
– vestuário que nunca irei comprar,
– jóias que nunca terei,
– animais lindos mas por vezes maltratados ou abandonados aos quais não posso ajudar e me deixam de coração partido,
– canais de TV com informação sobre filmes e séries que nunca tenho tempo de ver,
– fotografias de lugares onde nunca estarei,
– culinária com receitas que sei que nunca irei experimentar,
– ecológicas e de reciclagem com ideias fantásticas que raramente consigo por em prática e outras idênticas!

Aceitar a amizade de alguém, que não vejo há séculos mas que fez parte da minha vida num determinado momento, é o melhor que o facebook tem!
Fico numa alegria tal, por alguém se ter lembrado de mim e por conseguir reatar o contacto, que vou logo mandar uma mensagem a agradecer e a pedir notícias da vida. É como voltar ao velhinho hábito de escrever cartas – algo que já ninguém se lembra de fazer…
Mas, o que fazer se depois do pedido ter sido aceite e da mensagem ter sido enviada, não obtenho qualquer resposta ou qualquer outro contacto? Será que isto só me acontece a mim? Será que essas pessoas apenas pretendem aumentar em número os amigos que têm? Não contem comigo para isso! Por muito que me custe e não obstante o quanto possa lamentar, ides voltar para onde nunca devíeis ter saído – o passado!

Vou fazer-vos desaparecer sem me arrepender nem por um  segundo.
E com isso, ficarei mais leve pois os amigos não se contam em número nem em modo virtual…
Só faz falta quem cá está… lamento! Ou não, não lamento…

 

Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos