Cate Blanchett no papel da glamourosa Jasmine

O novo filme de Woody Allen – Rogério Medeiros

Se à saída de «A gaiola dourada» estava moderadamente satisfeito, depois de ver «Blue Jasmine» o meu contentamento era bem mais do que razoável. Faço esta comparação não porque os filmes sejam comparáveis, mas apenas porque é normal gostarmos mais de uns filmes do que de outros e a nossa sensação no final ser diferente.

«Blue Jasmine» é-nos trazido pela mão, ou melhor, pela câmara sempre sábia de Woody Allen. O humor e a crítica estão lá, como é seu apanágio. E Cate Blanchett é maravilhosa no papel principal.

A atriz que já vimos como Rainha Elizabeth I de Inglaterra e como a rainha dos elfos, Galadriel, na trilogia The Lord of the Rings, está maravilhosa enquanto Jasmine, cujo nome de batismo é afinal Jeanette.

Cate é soberba a desempenhar uma «dondoca» nova-iorquina, a residir mais propriamente no Park Avenue, envolvida em jantares sociais e viagens e em atividades como Pilates, yoga, e que não abdica da sua mala Vitton, nem de artigos doutras marcas como Chanel, Dior, Hermès. Enfim, uma vida luxuosa proporcionada pelo marido multimilionário, sempre disposto a «driblar» o fisco e as boas regras da conjugalidade. E o filho Danny está a ser preparado para esse elevadíssimo estatuto social frequentando Harvard.

Quando um dia esta vida chega ao fim, Jasmine passa por uma fase negra. Tem um esgotamento nervoso e fala sozinha na rua. Faz o tratamento de «choque» de Edison, toma medicamentos que só a fazem sentir-se pior… Até que resolve procurar Ginger, que mora em São Francisco.
A realidade que Jasmine vem encontrar é muito distinta da da nova-iorquina, mas já há muito que ela não faz parte desse mundo glamouroso. As mulheres tratam-se por irmãs mas são ambas adotadas. E o oposto uma da outra. Ginger não deve muito nem à inteligência nem à beleza. Embala a mercearia dos clientes numa loja e o namorado Chili é mecânico. Jasmine considera-o um bronco.

Ginger já viveu com Angie, de quem se separou e de quem teve dois filhos. É com eles que mora. E é esta família que acolhe Jasmine.
Jasmine quer recomeçar. Pensa retomar o curso de antropologia, de que desistiu no último ano, mas não lhe parece a hipótese mais viável. Ainda mostra sinais da doença, alheia-se e tem olhares estranhos. No entanto, acaba por inscrever-se num curso para aprender a trabalhar com computadores (quer tirar o curso de decoradora on-line) e, com muito custo, vai trabalhando como rececionista na clínica dentária do Dr. Flicker.
Quando Jasmine e Ginger vão juntas a uma festa, a sua vida parece prestes a mudar. Jasmine conhece Dwight e Ginger conhece Al. Os conhecimentos por elas travados nesta festa vão impulsionar o filme e aparentemente provocar mudanças. Com Dwight, a vida de Jasmine poderia voltar a ser o que era dantes, mas Woody Allen não deixa resvalar este drama para um conto de fadas e ainda bem.

Fabulosa igualmente como a mulher deprimida, frustrada, socialmente deslocada, arrogante e com tiques de dondoca, Kate Blanchett é um assombro e enche o ecrã.

É exímia a alternância operada por Woody Allen entre o passado e o presente, a qual imprime uma dinâmica diferente à história e nos revela pormenores no passado de Jasmine que desconhecíamos.
Até para a semana.

Até para a semana.

Rogério MedeirosLogoCrónica de Rogério Medeiros
O Pequeno e o Grande ecrã
Visite o blog do autor: aqui
Acompanhe no Facebook: aqui