Greve dos Professores – João Cerveira

Honestamente creio que os órgãos de comunicação social não estão a passar bem a mensagem, no que toca a esta greve. Estão, obviamente, a maximizar a parte “populista”, que lhes permite mais audiência e/ou mais jornais vendidos. Ou não fossem os media, na sua grande maioria, controlados por grupos económicos que apenas visam o lucro.

Para ser correctamente entendida pela população em geral, tem de ser explicada assim e por esta ordem: o Governo, à revelia de qualquer debate ou negociação aprovou novas medidas a aplicar à função pública em geral. Depois de aprovar tudo, disse que estava disposto a debater as medidas já aprovadas na concertação social, mas que, no essencial, não aceitava mexer. Ora, se não aceita mexer, onde está o debate? Posto isto, os sindicatos escolhem, dentro das datas mais próximas, aquela que mais impacto cria na sociedade, mostrando ao Governo o seu desagrado.
E no caso dos professores, escolheram a data dos exames nacionais. Mas isso, supostamente, não assustava o Governo que parece que já tinha tudo calendarizado, pois já pensavam usar a opinião pública, em especial os estudantes e os pais e encarregados de educação, como escudo, como “arma de arremesso”, para convencer os sindicatos a mudar a greve para uma outra data. Claro que, noutra data, a greve não seria tão eficaz aos sindicatos, pois passaria quase despercebida.

Vi há pouco nas noticias o novo Ministro Adjunto (Poiares Maduro, o “Relvas segundo”) dizer que propuseram aos sindicatos mudar o exame para dia 20, desde que os sindicatos garantissem não fazer greve nesse dia. Isto só vem provar, primeiro, que o o novo Ministro Adjunto, à semelhança do anterior, tem uma visão distorcida da democracia, do direito à greve (e do porquê do seu uso), pois não fazer greve no dia 17 ou aceitar não fazer greve no dia 20 se o exame mudasse para esse dia, na prática era a mesma coisa. Era ceder à vontade do Governo, que já mostrou que não tem a mínima intenção de recuar no programa de reestruturação (que mais parece de desmantelamento) da função pública. E, segundo, prova que não há coordenação no Governo pois ainda na quinta feira o Ministro da Educação dizia que não se podia mudar a data do exame de segunda, pois qualquer mudança iria implicar mudar todo o calendário de exames, para além de ter afastado responsabilidades no programa que afecta todos os funcionários públicos.

Um Governo que, não só não governa segundo o programa que foi sufragado, como não aceita qualquer alteração à linha de rumo que traçou, que já se mostrou errada, tendo sido criticada por todos, incluindo os membros dos partidos que o suportam e até pela comunidade internacional – basta pensar-se que o FMI, membro importante e influente na Troika que “fiscaliza” o cumprimento do programa de assistência ao nosso país, já admitiu ter errado na aplicação de algumas medidas por ter subestimado o impacto social e económico, nomeadamente na taxa de desemprego, das mesmas e o nosso Governo continua a insistir nelas – não pode ser, em rigor, um Governo democrata.

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…