Histórias … de gente grande! – Maria Matias

Histórias … de gente grande!
Ás vezes da minha janela vejo o tempo a passar. Vejo os rostos enrugados de olhos tristes dos idosos, ouço as risadas cristalinas dos adolescentes. Mães cuidadosas puxam os filhos pela mão e os casais acertam o passo para o autocarro.
Lá mais á frente um sem abrigo encurvado e sujo pelo tempo e pela idade, toca uma espécie de concertina, numa toada melancólica, que destoa dos sons das buzinas dos carros e do chiar dos pneus no asfalto ali ao lado!
A noite está a cair cinzenta e morna. Aqui e ali as luzes vão-se acendendo, como que por encanto, uma agora, outra depois…
Não tarda está na minha hora. Vou olhando o relógio da torre lá ao fundo, mas o lusco-fusco que antecede a noite já não me permite ver!
O coração vai batendo mais depressa á medida que o tempo avança!
Toca o telefone no meu bolso e aquele vibrar assusta-me, tira-me os olhos da rua.
_Está? Ouço do outro lado.
_Sim…?
_Vem! – dizem-me… vou sair agora. Pronta?
_Sim, claro! Esperava apenas o teu toque.
_Encontras-me ao fundo, no canto!
_Está bem…
Desligo rapidamente! Visto o casaco e saio para a rua. Apanho o primeiro  táxi que surge.
Dez minutos depois pago a bandeirada e saio.
Olho á volta. O sítio é luxuoso. O porteiro do hotel olha-me de alto a baixo na entrada mas nada diz.Os meus saltos fazem-se ouvir na tijoleira brilhante! Puxo o vestido justo, que agora parece mais curto.
Entro para a luz que se reflecte nos mármores brancos que me ofusca por instantes.
Vejo a última mesa no canto. Tem um ramo de gerberas, grande!
Dirijo-me para lá! Um empregado de jaqueta e laço aproxima-se.
D. Carolina?- pergunta!
_Sim!… exito.
_Esperam-na na suite 302, vou avisar!
Subo o elevador! As mãos tremem-me e aperto-as uma na outra.
Bato á porta…
_Entre…ouço lá de dentro- Está aberta!
Entro a medo. As luzes acendem-se, vozes ecoam á minha volta, muitas!
_ Parabéns!!!…
No meio do quarto uma enorme bola com luzes a tremeluzir deixam ver um “50” a brilhar.
Ao lado, o meu companheiro dos últimos 25 anos espera-me com um abraço! Á volta os rostos dos meus amigos olham-me com um sorriso…
Era o meu aniversário! Meia centena de anos. Como pude ter-me esquecido ….!


Crónica de Maria Matias
No limiar da….rutura!